The Project Gutenberg EBook of Christo não volta, by Alberto Pimentel
This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or
re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
with this eBook or online at www.gutenberg.org
Title: Christo não volta
(Resposta ao «Voltareis, ó Christo?» de Camillo Castello-Branco)
Author: Alberto Pimentel
Release Date: May 15, 2010 [EBook #32381]
Language: Portuguese
Character set encoding: ISO-8859-1
*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK CHRISTO NÃO VOLTA ***
Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images
of public domain material from Google Book Search)
CHRISTO NÃO VOLTA
(Resposta ao «Voltareis, ó Christo?» de Camillo Castello-Branco)
NARRATIVA
POR
ALBERTO PIMENTEL
Meus Deus, enviae segunda vez á terra o vosso divino Filho! Esta
negridão gentilica é peor que a de ha dois mil annos. N'aquelle
tempo esperava-se; nas entranhas sociaes estremecia o presentimento
d'um regenerador... Hoje em dia, nada, nada, ó altissima
Providencia! Nada! Mas... voltareis, ó Christo?
CAMILLO CASTELLO-BRANCO.
LIVRARIA INTERNACIONAL
DE
ERNESTO CHARDRON
96, Largo dos Clerigos, 98
PORTO
EUGENIO CHARDRON
4, Largo de S. Francisco, 4-A
BRAGA
1873.
PREÇO, 200 réis.
CHRISTO NÃO VOLTA
CHRISTO NÃO VOLTA
(Resposta ao «Voltareis, ó Christo?» de Camillo Castello-Branco)
NARRATIVA
POR
ALBERTO PIMENTEL
Meus Deus, enviae segunda vez á terra o vosso divino Filho! Esta
negridão gentilica é peor que a de ha dois mil annos. N'aquelle
tempo esperava-se; nas entranhas sociaes estremecia o presentimento
d'um regenerador... Hoje em dia, nada, nada, ó altissima
Providencia! Nada! Mas... voltareis, ó Christo?
CAMILLO CASTELLO-BRANCO.
LIVRARIA INTERNACIONAL
DE
ERNESTO CHARDRON
96, Largo dos Clerigos, 98
PORTO
EUGENIO CHARDRON
4, Largo de S. Francisco, 4-A
BRAGA
1873.
PORTO: TYP. DE MANOEL JOSÉ PEREIRA
Rua de Santa Thereza, n.º 4 a 6.
Cartas enviadas ao «Primeiro de Janeiro»
I
Castello de Paiva, junho de 1873.
MEU AMIGO.
Como tem navegado Douro acima e conhece bem as planicies e montanhas que
a uma e outra margem se encontram, umas espraiando-se ao nivel da
corrente, outras erguendo-se ameaçadoras e aridas para o ceo, não me
dispenso de contar-lhe um caso triste e verdadeiro, porque o presenciei
eu, se bem que mal possa ser chronista, porque estou ainda na commoção
da surpreza.
Encontrei-o no Porto, e disse-lhe que tinha de partir para Castello de
Paiva. Effectivamente parti no dia fixado. Não jornadeei por terra, o
que seria incomparavelmente mais rapido, porque me julguei obrigado, a
bem de meus proprios interesses, a acompanhar o barco carregado por
minha conta. Larguei do caes da Ribeira, cerca da meia noite, para
aproveitar a maré até Pé de Moira. Obedeço a um pedido não declarando o
dia. Cerca das onze horas da manhã estava em Pé de Moira, onde os
marinheiros e arraes almoçaram, comendo uns peixes fritos na barraca de
ramas de pinheiro, que o meu amigo conhece, e bebendo pela tradicional
bilha de barro vermelho.
Ahi me prophetisou o arraes que o termo da viagem seria moroso, porque
não havia vento e o barco ia muito carregado.
Resignei-me.
Armou-se um tolde com a vela, accendi o meu cachimbo, bebi tambem, e
comecei a lêr os jornaes que trazia no bolso, disposto a viver sobre
agua o tempo que fosse preciso.
Oh! enfadonha coisa este ante-diluviano processo de locomoção! Digo
ante-diluviano em rasão de Noé se ter salvo embarcado no dia da grande
submersão da terra.
Li os jornaes de fio a pavio, como se diz não sei se em bom portuguez,
reli-os, decorei-os. Cheguei a devorar os annuncios com uma soffreguidão
de cannibal. Enguli e digiri todos os _barateiros_ e todos os
_precisa-se_. Comprehendi então o que ha de profundamente triste em
_precisar_; eu tambem precisava de chegar a casa o mais breve possivel e
todavia a terra firme estava para mim como a agua para Tantalo. Vi-a; e
tudo se ficava em vêl-a.
Foi-me anoitecendo ainda a grande distancia de casa. Custou-me a
transigir com a necessidade de passar segunda noite no rio. Que me
importava a mim o luar, a ardentia das aguas, as vaporações embalsamadas
da natureza? Não sou poeta; já tive um pouco d'isso, é verdade, mas o
que mais ambiciono presentemente é dormir na minha cama, comer á minha
mesa, e calçar as minhas botas.
Finalmente não havia remedio senão conformar-me ás circumstancias; o
homem nasceu para joguete; fui pois o que tem sido e ha de ser
perpetuamente o meu similhante.
Cerrou-se-nos inteiramente a noite ao sopé das Victoreiras. O arraes deu
voz de lançar ferro; os marinheiros iam cansados de tirar o barco á
sirga e logo saltaram em terra para queimar sobre gravetos o seu
bacalhau. Puxei do meu taleigo e comi uma fatia de presunto de fiambre e
outra fatia de queijo.
Depois que gregos e troyanos se banquetearam com o frugal repasto,
tractou-se de acamar e dormir.
Os marinheiros acobertaram-se com as mantas e romperam, tarauteando
pelos narizes, em hymnos a Morpheu. Eu é que não nasci pagão; fui
remisso em render culto á tetrica divindade mythologica. Mexi-me,
remexi-me, rebuli-me e por mais d'uma vez accendi o meu rolinho de
viagem para dar batalha a pulgas, persevejos e demais bicharia, que
passava dos marinheiros para mim e de mim para os marinheiros.
Cerca das onze horas da noite pareceu-me ouvir de repente o baque de um
corpo em terra, mas um segundo depois não pude duvidar ao ouvir um grito
surdo como o de quem cahia contra o solo. Chamei afflictivamente os
marinheiros, que despertaram roncando interrogações.
--Que foi? Que é? perguntaram elles.
--Ahi fóra cahiu gente!
--Quem havia de cahir, senhor!
--Ouvi distinctamente a queda, e um grito depois.
--Um grito!
--Posso affirmar; ouvi gritar com toda a certeza.
Instiguei-os, pedi-lhes instantemente que me acompanhassem. Elles
accenderam o seu lampeãosinho e seguiram-me. Fomos marinhando pelas
fragas á procura d'agulha em palheiro. Os marinheiros começavam a rir
alvarmente e a dizer que eu era dado a medo de bruxas. De repente
pareceu-me porém ouvir gemer. Intimei silencio. Os marinheiros trocaram
entre si um olhar ironico, que para logo se volveu credulo, porque
distinctamente ouviram um gemido.
--É alma perdida! disse um com voz tremula.
--É naturalmente corpo perdido, objectei eu. Calem-se. Vamos a vêr se
nos orientamos.
Apoz um longo intervallo, ouvimos gemer do novo, se bem que mais
debilmente. Podemos orientar-nos. Eu marinhei á frente dos homens,
arrancando da mão d'um a lanterna. A pequena distancia pareceu-me vêr um
vulto estendido no chão. Baixei o lampeão e reconheci um corpo de
mulher. Os marinheiros estavam attonitos e como que receiosos
d'approximar-se. Fui eu quem, poisando o lampeão, levantou o corpo.
E--surpreza extraordinaria!--vi uma bonita mulher, se bem que
mortalmente pallida, nova, franzina, com o rosto ferido, ensanguentado.
Estaria viva ou morta? Não sabiamos. A verdade é que estava fria como
cadaver. Os marinheiros, capacitados de que não era bruxa, ajudaram-me a
transportal-a ao barco. Deitamol-a, aspergimol-a, lavamos-lhe os
ferimentos e nem tempo tivemos--eu pelo menos--para pensar no
extraordinario do acontecimento. Hoje é que eu, ainda que mal,
reflexiono e me confirmo que não ha romance que seja absurdo.
II
A formosa desconhecida continuava a estar immovel e fria, apesar dos
cuidados que lhe prodigalisamos e que, attentas as nossas
circumstancias, não podiam ser completos.
Sabe que eu não sou piegas nem romantico,--o que significa o mesmo,
porque o romantecismo é a pieguice do espirito--mas confesso-lhe
francamente que me horrorisaram a solidão, a escuridade, a massa negra
das aguas e a massa negra das serras, o desamparo do homem entre a agua
que é fria e a rocha que é dura, entre ambas que são mudas e
surdas,--finalmente, o desagasalho, a impossibilidade de encontrar
soccorro!
Como o Douro me pareceu differente d'aquelle extenso e caudaloso rio
nosso conhecido, meu e seu, quasi sempre placido, povoado de barcos,
animado de cantares, marginado de casinhas e campanarios que de longe a
longe se penduram das fragas, n'uma palavra, accidentado de tons
variados e por mais d'uma vez festivos!
Ordinariamente, quando se viaja, tem-se saude. Vem a gente a lêr no
barco, a fumar, a conversar os marinheiros, a incital-os a que cantem ao
desafio, a comer a sua canja e a beber a sua pinga!
Nada nos apavora então! Quando o barco passa por baixo das Victoreiras,
e se vê lá no alto, ameaçando eternamente despegar-se, aquella enorme
avalanche negra, informe, nem siquer lembra que os fraguedos, que se
encastellaram um dia, por uma evolução da natureza, podem rolar e
precipitar-se alguma hora, por outra evolução imprevista. Contenta-se a
gente com ouvir da bocca dos marinheiros uma tradição do sitio.
--Alli, dizem elles, é que os homens trahidos trazem as mulheres a
despenhar-se.
Elles não dizem isto por estas palavras, mas digo eu. E a gente
facilmente acredita que haja homens que se dêem ainda o incommodo de
jornadear por algumas horas para despenhar as mulheres adulteras, que já
estão despenhadas, e que haja mulheres, que depois de conhecerem o
vicio, tenham a virtude de se deixar morrer!
A viagem pelo Douro, de dia, em boa disposição d'espirito e corpo, tem
alguma coisa de idyllio, d'Arcadia, de creendice, coisas impossiveis de
encontrar hoje em qualquer outra parte. É uma especie de Pantana, onde o
carneiro assado parece saltar-nos aos dentes, e a borracha trepar-nos
aos beiços, e onde a gente, olhando para as mãos, encontra cinco facas e
cinco garfos! Onde é hoje que se póde encontrar a realidade d'este ideal
de Pantana, a não ser n'uma viagem pelo Douro? Quem é hoje que come
com a mão, desde que o Monteverde publicou o _Manual encyclopedico_,
e nos exames do lyceu se ensina a dar ao queixo, quer dizer, a comer com
as mandibulas?
Mas como o quadro muda de noite, santo Deus! quando terra, ceo e agua
são escuros, e está ao pé de nós um corpo frio, immovel, quando o nosso
espirito pergunta a si mesmo, para resolver um mysterio, se aquella
mulher, formosa e inanimada, gentil e desconhecida, será morta ou viva!
E não haver um sal que se lhe dê a respirar! um espelho para lhe receber
o halito, se ainda o tem! uma voz que nos anime! um espirito que
comprehenda a nossa tribulação! porque os marinheiros do Douro são os
puros cadeirinhas do rio! Fazem tudo mechanicamente; teem força: puxam
por ella. Perdão, pelo que elles puxam é por nós, pelo barco, e por
elles mesmos. Podiam ter nascido bois, e nasceram homens. Tambem os
cadeirinhas podiam ter nascido burros de carga e nasceram gallegos. Que
a natureza emendasse a mão em qualquer feitura humana, comprehende-se,
porque tambem aquelle artista, que estava a fazer o demonio calcado pelo
archanjo, mudou de tenção, por quebrar os chifres ao demonio, e
aproveitou a esculptura para fazer um santo deitado.
O que é certo é que a natureza humana, tirante os marinheiros de
riba-Doiro e os cidadãos de riba-Minho, é tão nobre, tão dedicada,--e
perdoe-se-me a vaidade de a estudar em mim mesmo--que logo me esqueci da
urgencia de abreviar a viagem, de descarregar em Castello de Paiva os
meus generos, e concentrei todas as minhas attenções n'aquella mulher
que não conhecia, que vagueava a deshoras por uma serra, com risco de
rolar ao Douro, sósinha com a sua ideia, que era provavelmente uma
grande dôr.
Permitta-me--entre parenthesis--que chame á _dôr_ moral uma ideia e não
um sentimento. Isto é philosophia minha. Quando se acorda pela manhã, e
se _lembra_ a gente do soffrimento da vespera, é que continua a _sentir_
o que na vespera sentiu. E que tal! approva? Eu quando fui d'uma vez ao
Porto, acompanhar o meu patricio Barros que ia fazer concurso para uma
cadeira de philosophia n'um lyceu do sul, e ouvi argumentar um tal
Albuquerque d'oculos verdes, adquiri a convicção de que tambem podia ser
philosopho, mais pelo que ouvi ao Albuquerque do que pelo que ouvi ao
Barros.
A verdade é, meu amigo, que a nossa alma verga ao perigo como o aço ao
joelho.
Pozessem no meu barco um farrabraz, um mata-mouros, um espadachim, ao pé
d'aquella mulher, e ainda que esse stentor não tivesse esposa, nem
filha, nem--ó prodigio!--tivesse mãe, elle sentiria o que eu senti, a
abnegação das situações anormaes, a ancia de valer a quem está carecido
de soccorro, a necessidade de saber se aquella mulher estava morta ou viva!
Cobri-a com todas as mantas que havia no barco, as dos marinheiros e as
minhas, a vêr se provocava a reacção; lembrei-me de que tinha aguardente
comigo, friccionei-lhe os braços e os pés, e, ao agasalhal-a, ao
conchegar-lhe a roupa, senti que tinha no bolso papeis.
Bem podia ser que alli estivesse a chave do enigma.
III
Com quanto eu seja um pouco preguiçoso em escrever, e ainda hontem lhe
tenha enviado a segunda carta sobre o extraordinario caso das
Victoreiras, não posso resistir á tentação de voltar hoje ao assumpto
para lhe communicar que por carta recebida agora do correio do Porto fui
ameaçado de não sei que medonhos perigos no caso de proseguir na
veridica historia da morta ou viva.
Em nenhum acto da minha vida blasono de valente, mas tambem não é meu
costume recuar por cobarde. Continuarei pois a narrativa encetada, em
proveito da humanidade, porque, repetindo o que dizia na primeira carta,
é uma tremenda lição. E depois que ideia se fará no Porto da policia de
Castello de Paiva? Julgarão isto sertão de feras, serra deserta, região
ignorada? Eu não sei. O que posso affirmar é que a tenebrosa carta nem
me cheirou a certidão d'obito, nem estou em terra onde a supradita
carta, dado que eu fosse simplesmente poltrão, podesse converter-se em
realidade impunementemente.
Não, meu amigo, eu protesto contra todas as mordaças açaimadoras de
escandalos. Isto assim não póde ser,--que triumphe sempre o forte e
soffra sempre o fraco. Bem sei que é costume recatar os escandalos e,
quando muito, publical-os desfigurados. Mas--erro imperdoavel!--o
escandalo é muitas vezes a lição e algumas vezes póde ser a cura. É
preciso que se espalhe, que se discuta, que se commente, com vagar, como
eu estou fazendo, para que a precipitação não cegue o entendimento.
Este caso da morta ou viva tem surprehendido muita gente, mesmo em
Castello de Paiva. Era eu a unica pessoa que estava na confidencia
d'elle, porque fui a unica testimunha occular. A principio julguei dever
guardar segredo. Ao cabo, porém, de muitas noites de insomnia, resolvi
dar-lhe publicidade. Sabido apenas por mim, não aproveitaria a ninguem;
divulgado, algum proveito poderá levar á sociedade.
Ha que tempos se anda ahi a fallar da emancipação da mulher! Mentira,
hypocrisia, infamia!
A sociedade lança mão da these-emancipação para mais escravisar a
mulher, como os governos costumam exhibir o rotulo _melhoramentos
materiaes_ quando tentam vexar os povos com novos tributos.
Querem estes philosophos de má morte emendar a natureza. A mulher não
nasceu para _senhora_ nem para _escrava_; a mulher é companheira. Como
esta palavra está a dizer, ella deve compartir comnosco alegrias e
dores, risos e lagrimas, flores e espinhos. Fallar-lhe em
emancipacão é suppor que havemos sido despotas ao ponto de lhe
roubarmos a liberdade relativa que lhe deviamos ter dado, e que lhe
queremos restituir; é proclamar a nossa propria vileza; é arrogar-nos
fatuamente a importancia de libertadores do genero humano. Escravisal-a
é aviltar nossos filhos até á condição de filhos d'escrava e
julgarmo-nos nós mesmos nas circumstancias de nossos filhos.
Não ha emancipação nem escravidão: o que deve haver simplesmente é
sociedade conjugal.
Portanto eu, philosopho montanhez, estarei sempre na brecha para atacar
qualquer das duas falsidades, qualquer dos dois extremos, que são
viciosos, estando pois a virtude mais uma vez no meio-termo.
Estas cartas são um brado ardente contra o aviltamento da mulher, cuja
honra se quer subjeitar a um capricho, esquecendo-nos de que
deshonrando-a a ella nos deshonramos a nós mesmos. Não façamos da mulher
a guitarra com que nos recreamos durante uma serenata e que ao romper do
dia, ebrios de mau vinho e mau prazer, atiramos pela janella fóra. Quem
a recolherá depois de a vêr no monturo? O trapeiro, apenas. E todavia a
guitarra era mimosa, quando suspirava ao luar; tinha uma voz doce e
melodiosa que despertava vagos pensamentos na alma; podia ainda murmurar
cadencias se continuasse a ser dedilhada por mãos delicadas. Mas nós,
que a principio mal poisavamos os dedos nas cordas, que a julgavamos
intermedio entre a nossa alma e a natureza, porque era ella, a guitarra,
que estava fallando por nós e respondendo pela natureza, deixamos por
ultimo cahir em cheio a mão sobre o fragil instrumento e fizemos estalar
uma corda, que precedeu o estalar de todas as outras.
Pois a corda que estalou chamava-se--honra; depois d'ella estalaram
todas as outras, que se podem chamar--pundonor, brio, fé. A mulher,
quando chega a este destino da guitarra, já não tem pundonor, porque não
se peja de haver cahido; não tem brio, porque não pensa em
rehabilitar-se; não tem fé, porque já não acredita na propria
rehabilitação nem na rehabilitação das outras.
Vai, como a guitarra partida, para o muladar do trapeiro ou para a loja
do adello.
Ou morre ou se vende.
Não, philosophos da philosophia de Mahomet, que sustentaes o _crê ou
morres_, não, em nome de nossas mães, de nossas irmãs, de nossas
esposas, de nossas filhas, havemos, nós, os que temos dignidade e
coração, de quebrar aos vossos pés essas duas laminas d'aço cortante que
limitam o vosso perfido dilemma. E como o havemos de fazer? Desvendando
a mulher, avisando-a, apontando-lhe o exemplo.
Meu amigo,--perdoe-me esta dissertação que era precisa, depois de lhe
haver annunciado a recepção d'uma carta ameaçadora, e previna os seus
leitores de que eu d'aqui em diante entrarei directamente no assumpto.
IV
Quer que lhe explique o meu demorado silencio?
Dias depois de publicada a terceira carta, recebo pelo correio outra de
letra desconhecida.
Abro e leio:
«Ill.mo snr:
«Vejo que é um homem esforçado e brioso, para quem todas as ameaças são
nullas. Perdoe-me o havel-o comprehendido mal, tomando-o como
pusillanime. Lance tudo á conta do meu desespero de me vêr justamente
accusado em muitos relanços das suas cartas, e falsamente incriminado
n'outros. Foi uma infamia, que a sua magnanimidade perdoará, e que o meu
arrependimento redimirá. Peço-lhe porém--se alguma confiança lhe mereço
ainda depois de perdoado--que me ouça, antes de continuar as suas
cartas, para que, melhor informado, possa conhecer as particularidades
da veridica narrativa. Um inconveniente obsta porém á minha ida a
Castello de Paiva: é o ser uma terra muito pequena e açular eu a
curiosidade do publico ocioso com a minha presença ahi, depois da
publicação das suas cartas.
«N'esta conjunctura não será grosseira impertinencia pedir-lhe um
sacrificio por amor da imparcialidade com que quer ser juiz na minha
causa? Pois bem, ao magistrado que me tem de julgar perante a opinião
publica, e que deve escutar com igual benevolencia reu e queixoso,
exoro, supplico vivamente que se digne marcar sitio onde me possa dar
audiencia para ouvir da minha justiça.
«Não receie ciladas. Se não fosse realmente um homem corajoso,
lembrar-lhe-ia que prevenisse a authoridade da hora e local da entrevista.»
Respondi immediatamente:
«Ill.mo snr:
«Tenho de ir a Penafiel depois d'amanhã. Portanto, se não quer ser
visto, espere-me ás onze horas da noite na capella de S. Roque.
«Não receio ciladas. Deixemos a authoridade em paz.»
Fui.
Effectivamente pude orientar-me melhor nos episodios que precederam o
caso das Victoreiras, o que de nenhum modo quer dizer que eu modificasse
absolutamente o meu primeiro juizo.
Ainda assim cumpre-me restabelecer a verdade dos factos.
Da parte _d'elle_ não houve a minima culpa no incidente d'aquella noite.
Foi sim um grave erro da sua parte, o erro de ceder á loucura d'um
momento, que deu logar a esse acto de desespero da formosa desconhecida.
Elle, porém, não estava avisado da fuga, como pude verificar pelo
confronto dos depoimentos d'ambos.
O que é certo é que o vi chorar...
Nunca o seu coração está tão endurecido que não tenha a sensibilidade
que refrigera com lagrimas as dôres intimas.
Todavia aguardemos o desfecho dos acontecimentos, esperando, como o dr.
Pangloss, que tudo seja pelo melhor no melhor dos mundos.
Isto até aqui, meu amigo, foi para si.
D'aqui em diante vae proseguir a narrativa, reatando-se no ponto em que
ficara, como se não se houvera dado este episodio que acabo de referir,
e que todavia me permittirá ser mais explicito.
Senti, disse eu na segunda carta, que a desconhecida tinha no bolso papeis.
Só alli podia estar a chave do que para mim era enygma.
Mas, ao mesmo passo, um escrupulosito: Ser-me-ia permitlido lêr essa
correspondencia?
E logo a contrapôr-se ao escrupulosito uma reflexão: Não a traria ella
comsigo, prevendo que as suas debilitadas forças lhe faltariam no
caminho, para esclarecimento de quem quer que a encontrasse morta ou viva?
Resolvi lêr os papeis.
Eram um maço de cartas, atadas com torçal vermelho.
Á primeira vista, fiquei perplexo.
Reparando melhor, dei tino de haver entalado, entre o torçal e o rolo,
um bilhete.
Esse devia ser o esclarecimento desejado.
Era, em verdade.
Dizia simplesmente isto:
«Chamo-me F., da casa de... vou para..., fugida á justa punição de meu
pai e apenas confiada na protecção do pai de meu filho, que deve nascer
se a morte não surprehender a mãe n'esta ousada resolução.
«Tu, que me lêres, perdoa-me.
«Se és pai, põe todos os teus cuidados na guarda de tuas filhas: se és
mulher, e estás descida a iguaes abysmos, vê no espelho da minha
desgraça a profundeza do teu erro.»
Tinha-se feito a luz.
Aquella mulher era filha d'um homem respeitabilissimo que ha muitos
annos se soterrara n'umas serras do Douro depois de haver percorrido o
mundo, semeando dinheiro e anecdotas, batendo os melhores cavallos,
baloiçando-se nos melhores tilburys, jogando, bebendo, reptando,
apostando nas corridas, atirando aos pombos, pompeando nas aguas de Spa,
debruçando-se n'um camarote da Grande Opera, merecendo referencias a
Julio Janin, enchendo o mundo, o folhetim, o romance e até o theatro.
Ha quem diga que o nosso conhecido _Antony_, transportado do lar
deshonrado para a scena igualmente deshonrada, fôra apenas uma copia
desenhada pelo _crayon_ ultra-romantico de Alexandre Dumas n'uma hora
mais ultra-romantica que o proprio _crayon_.
V
Finalmente, ao recolher d'uma das viagens ao extrangeiro, casou com uma
senhora da primeira sociedade lisbonense. Quasi o surprehendeu o ser amado.
Não conhecia o amor senão da capa dos livros e dos _vaudevilles_. O
casamento era para elle apenas uma comedia que vira em França e na qual
homem e mulher se davam excellencia e cumprimentavam ao jantar. Pensava
pouco mais ou menos em observar o regimen matrimonial da comedia, mas
completamente se enganou, porque, sentindo-se amado, começou de
encontrar no amor thesouros que lhe eram desconhecidos desde a mocidade.
Atravessara o mundo, sem atravessar a familia: não conhecia o amor,
porque só na familia o ha. A alegria das festas, fóra do lar, irradia
como a espuma do _champagne_ á luz de candelabros, mas entorna-se e
dissipa-se como ella.
Suppunha elle haver-se apaixonado uma vez, aos vinte annos. A 2 de
abril de 1829, fazendo a primeira viagem a Pariz, ouvira cantar a
Malibran, que era então a rainha da opera, n'um concerto matutino dado
na rua Taitbout, em favor dos orphãos adoptados pela «Sociedade de moral
christã.» Ficara doido, embriagado, e logo obteve uma apresentação á
cantora, que o recebeu ao _dessert_.
N'essa mesma noite cantava a Malibran o papel de Desdemona no theatro
dos Buffos. O theatro trasbordava de espectadores; a receita do
espectaculo subiu ao algarismo de 18,000 francos.
Não obstante ser immensa a multidão, a cantora pareceu enxergal-o e
distinguil-o com um sorriso,--d'estes sorrisos que as mulheres de
theatro espalham como bilhetes de beneficio...
Isto acabou de enlouquecel-o. Todo o theatro tinha visto: a Malibran
sorrira-lhe!
N'esse mesmo anno foi a cantora a Londres. Acompanhou-a, seguindo por
toda a parte o rastro de gloria que ella abrira ao passar por entre a
admiração britannica.
Em janeiro de 1830, estavam ambos em Pariz: ella e elle.
Foi n'esse mez e anno que Pariz a ouviu cantar o segundo acto do
_Matrimonio segretto_, com as duas maiores notabilidades cantantes da
epocha,--a Sontag e a Damoreau-Cinti.
A vida do nosso _touriste_ foi, durante o tempo que seguiu a Malibran,
uma serie de viagens,--as mesmas que ella fazia,--de ceias, de
_pic-nics_, de prazeres, que acabavam sempre ao amanhecer, porque os
falsos sorrisos desmascarar-se-iam á luz da manhã, e, digamol-o tambem,
foi um inferno de ciume.
Elle tinha tamanha emulação de quem lhe dava a ella um broche, como de
quem lhe dava simplesmente um bravo. Isto, meu amigo, acho eu
desarrasoado; mas diga-me se não tenho rasão, visto que vive em terra
onde ha theatros.
Ora o nosso heroe, que, para maior facilidade, chamaremos X, julgava-se
perdidamente amado, e perdidamente namorado.
Duplo erro!
O que lhe sustentava essa rosada illusão eram as flores, as luzes, os
crystaes, as ovações, as perolas e os sorrisos da Malibran, o publico,
as ceias, os bailes, toda essa vida exteriormente seductora, apenas
architectada sobre este pedaço de vidro, que no mundo se chama a _gloria_.
Mas--desapontamento horrivel!--o pedacinho de vidro quebrou, cessaram as
scintillações prismaticas, e o castello encantado desabou.
Foi n'esse mesmo anno de 1830 que a Malibran atou com o celebre
violinista Beriot as intimas relações que os tornaram inseparaveis.
Foi n'uma ceia que elle soube a fatal noticia por intencional chocarrice
de um conviva.
Esteve para erguer-se e reptar Beriot, mas Beriot era um homem serio, e
não o havia offendido.
Desistiu.
Amuou, corou, empallideceu, começou a tornar-se ridiculo.
Malibran, que fez reparo no despeito do seu admirador, levantou-se e
apresentou-lhe a Lablanche, que estava á mesa.
Coruscou no cerebro de X a ideia da vingança. Começou a galantear a
Lablanche, a ponto de que em 1832 percorreram todos a Italia: Malibran,
Lablanche, Beriot e X.
Já viu o meu amigo mais doida mocidade, mais desbaratada vida, e ao
mesmo passo tamanha nudez d'alma ainda mesmo na epocha em que o corpo se
involve na ampla capa de D. Juan?
Um beneficio recebeu porém d'esse divagar pelos prazeres ruidosos.
Saturou-se do mundo. Felizmente, a sua vinda a Lisboa facilitou-lhe o
unico meio de conhecer a unica coisa que desconhecia,--a familia. Entrou
no lar pela porta do casamento quando pela janella sahia a extravagancia
ainda desgrenhada das ceias e de charuto na bocca.
A proposito de charuto, meu amigo: de-me tempo de fumar um.
VI
Continuemos a fallar do pai da nossa gentil desconhecida.
Acabei o charuto: podemos conversar por um pouco.
O amor completou a regeneração que a experiencia do mundo principiara.
Casou.
No coração da esposa encontrou thesouros de raras virtudes.
Alvoreceu-lhe em torno uma aurora de tão doce luz, que pela sua mesma
suavidade desbancava as scintillações crystallinas das ceias, e os
clarões que illuminavam em scena a figura da Malibran.
Toda a gente o presumia ainda rico: a verdade era que a realidade não
correspondia á opinião publica.
Havia gastado como um principe russo. A capa de D. Juan não tem bolso,
de modo que emquanto as mãos tangem o bandolim da aventura vai o
dinheiro cahindo no chão.
Casado, encarou com mais gravidade no seu futuro, e achou que não podia
aguentar-se nas pompas de Lisboa.
O casamento tem quasi sempre isso de bom: desperta a consciencia
adormecida pela crápula.
Pediu informações aos feitores, e as informações confirmaram a suspeita.
Chamou á puridade a esposa e disse-lhe:
--Perdoa-me, anjo, se te vou magoar com a minha primeira confidencia,
mas devo-te a verdade toda. Eu não sou tão rico como geralmente se
suppõe. Gastei muito, quasi esbanjei na sociedade o patrimonio da
familia. Quero porém que tu vivas feliz, e para attingir a tua
felicidade apenas encontro abertos dois caminhos: ou o trabalho honesto
ou a tranquilla solidão. Se desejas viver no extrangeiro, poderei obter
uma embaixada; mas se preferes viver no meu e teu paiz, temos que
recolher-nos á provincia, e viver na doce tranquillidade que o mundo da
capital não conhece. Só te peço que sejas franca. Decide, e a tua
vontade será lei.
A resposta foi esta:
--Partiremos amanhã para o teu solar. A felicidade está onde a gente a
tem; tel-a-hemos lá. A vida no extrangeiro seria a prolongação da tua
mocidade; ora eu tenho direitos incontestaveis ao teu coração. Quero-o,
pois. E onde melhor o possuirei do que na solidão do lar, onde, fechada
a porta, seremos nós os unicos habitantes do nosso mundosinho de
felicidade? Vamos lá, meu amigo. Nem sabes como me sinto alegre! Quanto
mais te distanciares do passado, menos ciumes terei d'elle. Vamos lá.
Foram.
O solar, construcção coeva dos primeiros tempos da monarchia, era
mais acervo de ruinas que palacio de nobres. As pedras haviam-se
desconjunctado, e a hera marinhava pelas fendas até ensombrar as
janellas. Nos longos corredores havia a escuridão sinistra dos carceres.
As salas, denegridas pelo tempo, eram d'uma vastidão que punha medo. A
mobilia, tão deteriorada como o edificio, tinha o aspecto funebre de
phantasmas que á meia noite se fossem sentar encostados ás lousas do
cemiterio. Os grandes contadores de pau preto negrejavam a pequenos
intervallos como ossadas de gigantes carbonisadas em forja de cyclopes.
Por entre a escuridão e o silencio da casa algum pipillar d'andorinhas,
que penduraram o ninho entre as ruinas. Tambem ás vezes no cemiterio, no
meio da concava sombra dos chorões, assim chilriam uns passarinhos que
fogem quando presentem gente, porque estão habituados ao socego das campas.
As sombras da casaria deserta apavoraram a noiva de X. Uma noite uma
coruja fôra piar a uma das janellas do solar. A pobre senhora estremeceu
e chorou.
Acudiu o marido a abraçal-a meigamente.
--Tinha sido melhor, disse elle, optarmos pelo estrangeiro. Isto aqui é
triste. Ainda se as andorinhas se não calassem de noite...
--São os nossos unicos amigos, respondeu a dama. Se esta casa não é
completamente sepulcro, a ellas o devemos. Mas, meu amigo, as andorinhas
me bastam para conforto. Eu chorei porque estava triste; não foi que
tivesse medo. Não te inquietes...
--Não, anjo, não. É preciso sahirmos d'aqui...
--Para o extrangeiro não, não?
--Socega, filha. Pois que estes montes te amedrontam menos que estas
paredes, e que te resignas ao sacrificio, ficaremos. Limitar-nos-hemos a
mudar de casa. Amanhã tractarei de ajustar a edificação d'um predio que
tenha em conchego o que aqui perdemos em vastidão. Bem vês que mais nos
aproximaremos ainda. Eu quero ouvir a tua voz a todo o instante. E
depois, como sabes, o berço das creanças costuma ser pequenino, e tu
vais ser mãe. A nossa nova casa será pois o berço de nosso filho.
Escolho o laranjal. O vento que passar agitando as folhas embalará o
berço... Queres?
--Se quero!
VII
Construida a casa ao centro do laranjal, entrava a felicidade pelas
janellas com os murmurios e os olôres de fóra.
Ficara deserto o solar na eminencia em que assentava. Negrejava como o
cavername de navio naufragado sobre rochas. Eram as ruinas do passado,
os escombros do feudalismo que dormiam o seu somno de seculos; o
_cottage_ do laranjal era alegre como a liberdade estensiva a nobres e
plebeus:--aos nobres, porque já lhes não pesava a tarefa de mandar; aos
plebeus, porque já não eram servos de gleba.
As corujas invadiram as ruinas em competencia com as trepadeiras que
bracejaram desaffogadamente, e as pavidas visões da esposa de X ficaram
lá sepultadas para nunca mais a perturbarem emquanto costurava o
enxovalsinho da creança que ia nascer.
O fidalgo pasmava do poder regenerador da familia, que lhe tinha raspado
da alma a ultima lepra da extravagancia. Não via mais mundo do que
aquelle. Andava a toda a hora a olhar para o berço vasio, ancioso de vêr
sobre o travesseiro o relevo d'uma cabeça pequenina. Não faltava já o
lençol de rendas nem a coberta de damasco: o que faltava era a creança.
Pozessem alli dentro uma alma, e a felicidade ficaria completa.
Chegou finalmente o dia de se realisar o venturoso sonho. Desdobrou-se a
cobertasinha adamascada, acamaram-se as rendas para não maguar o
corpinho delicado, e ali dormiu a creança o primeiro somno velada pelo
pai que nem ousava beijal-a para não a maguar.
Aos cinco annos a creança tinha já um portesinho senhoril que era de
namorar os olhos. Muito redondo o vestidinho; os cabellos annelados e
auri-luzentes; o pequenino corpo escondido na fita que lhe servia de cinto.
E chilreava, e esvoaçava, como se tivesse a casa por gaiola.
Á medida que a pequerrucha ia crescendo, crescia com ella o amor
paternal. Sorriam de a vêr sorrir, e choravam de a vêr chorar.
O grande receio era de que morresse.
Esta é a loucura de todos os pais.
Querem roubar á tyrannia da morte uma vida que lhes não pertence.
Esquecem-se de si mesmos para se absorverem n'uma existencia que não
lhes é essencial, mas complementar.
Não a eduquem á revelia, deixando-a entregue aos instinctos bons e maus
que nascem com ella. Visto que o filho é o complemento dos pais,
completem-se pelo filho. Adaptem-n'o, quanto possivel, á sua maneira
de pensar e sentir; façam d'elle a coda da santa melodia chamada
familia. Não se riam de que a creança faça aquillo que elles nunca
fizeram. Não lhe applaudam o bater com o pésinho no chão, o desfolhar as
flores que lhe são defezas, o mexer nos objectos que devem respeitar.
Bater com o pé no chão é a principio um movimento mechanico, nervoso.
Com o decorrer do tempo corresponde ao movimento uma ideia má e um mau
sentimento. Então esse acto já não é mechanico simplesmente; é a
manifestação da raiva, do desespero, do odio. A esta perniciosa educação
é preferivel a morte. As plantas novas tomam o geito que lhes dão.
Deixem crescel-as sem enleial-as, que ellas assombrarão todo o pomar.
Ora o amor é cego, e não vê nada para fóra de si.
Foi isto o que aconteceu.
A creança cresceu com a mulher. Os pais, para que outro amor lh'a não
roubassem, deram de mão a todas as visitas de gente moça. As unicas
relações que se conservaram foram as do voltarete: eram duas. O
capitão-mór tinha cincoenta e cinco annos; tinha além d'isto rheumatismo
e oculos azues. O outro parceiro era um morgado de quarenta annos, que
estivera em Pariz com o pai da menina e _servira de capa_ a varias
escaladas. Tinha casado e parecia um homem morto. O casamento tem tanto
de bom como de mau: é como os carceres. A uns presos aproveita a
reclusão; outros sahem da cadeia mais desmoralisados.
Os primeiros estavam representados em X; os segundos no morgado.
Bem casados e mal casados, diz o mundo.
O amigo do fidalgo tinha _verve_ e bigode: duas tentações.
Ainda sabia dar o laço da gravata: um mau symptoma.
Fumava charuto: um perigo.
Contava das suas viagens, dizia que tal cantora, que conhecera, tinha os
olhos bonitos e as unhas feias; que o nariz da Malibran não era tão
correcto como o pescoço: uma desgraça.
N'uma palavra: era entendedor.
A menina da casa, emquanto elles jogavam, estava por ali.
E o peior que podia acontecer n'aquella casa era o entendedor estar lá.
Por mais que elle quizesse dominar o seu temperamento, ser bom e digno,
leal e cavalheiro, o coração, que estava comprimido nas reixas
conjugaes, aproveitou a occasião e poz a cabeça fóra da grade a pedir
esmola d'amor.
A inexperiente menina ouviu-o, sem saber o que fazia.
Tinham-n'a ensinado a não fugir d'aquelles dois homens: não fugiu.
VIII
Mau é brincar com fogo: o incendio irrompe.
O amigo da casa começou a fazer reparo nas graças da menina, e achou que
tinha os dentes alvissimos, os olhos formosos, os cabellos soberbos.
A menina, por sua parte, entrou de deixar-se influenciar agradavelmente
pela amena eloquencia do unico homem estranho que fallava n'aquella casa.
Era elle o unico orador dos serões intimos; a unica voz que sobrepujava
o fremito das cartas na mesa do voltarete.
Depois a menina lisongeava-se de que um homem, que tinha corrido o
mundo, e conhecido mulheres celebres por talento e formosura, a
conceituasse intelligente e gentil.
Estava-se preparando n'aquelle seroar despreoccupado a ruina de Troya.
O apartamento é um mau systema de educação. A borboleta, que não conhece
o perigo da chamma, arroja-se á luz.
Era melhor tel-a avisado para que demorasse a morte quanto lhe fosse
possivel.
Após as amabilidades vieram os galanteios, e após os galanteios as
confidencias.
A menina ouviu e acreditou.
Começou-se a dizer por fóra que a menina era amada pelo morgado.
Só não o diziam, nem ouviam, os pais da menina e a esposa do morgado.
Decorreu tempo, e a menina deixou de sahir a passeio; ao mesmo tempo o
morgado deixou de ser assiduo.
A menina fez-se triste; o morgado andava preoccupado.
Luctavam ambos com a resolução do mesmo problema: encobrir uma vergonha
commum.
Foi n'essa epocha que o morgado teve de ir ao Porto por causa de pleitos
que se ventilavam nos tribunaes.
Pediu-lhe a menina que a tirasse da casa paterna, antes que rebentasse o
escandalo.
O morgado prometteu demorar-se apenas alguns dias no Porto, e voltar
depois de recolhidas grossas quantias, cujo embolço dependia da solução
do pleito, a seu vêr bem encaminhado, para se passarem ambos a Hespanha.
Houve porém uma camponeza que os viu estarem-se despedindo em logar
afastado. Contou-o á noite á lareira. A revelação da camponesa
espalhou-se. Chegou aos solares, e aos ouvidos da desventurosa esposa do
morgado.
Pensou a infeliz senhora que poderia ainda atalhar o incendio, e mandou
um portador com uma carta á mãe da menina.
Faltaram-lhe as forças para ir pessoalmente.
Chegava o mensageiro a tempo que a menina estava chorando á janella do
seu quarto.
O coração, que é sempre feiticeiro, adivinhou.
O mensageiro, que trazia recommendação, não fez caso.
Sahiu-lhe a menina ao encontro. Pediu-lhe com lagrimas nos olhos e na
voz que lhe entregasse a carta e fosse dizer á morgada que a havia
depositado nas mãos de sua mãe.
--Veja que me perde, podendo salvar-se com uma simples mentira! Se
tivesse uma filha, seria mais clemente.
O mensageiro era pae: entregou-lhe a carta.
A menina leu-a, e cuidou morrer d'afflicção e vergonha.
Dizia a morgada que as senhoras da terra,--as quaes eram amantes de
varios morgados casados,--já não levantariam o olhar, se a encontrassem
nos caminhos, para a amante de seu marido.
Era um modo de dizer que o escandalo tinha estrondeado, e que Jesus
Christo não voltaria mais ao mundo, porque nenhuma das voluntarias
peccadoras se arreceiava de ser a primeira a apedrejar a peccadora incauta.
De feito, Christo ainda não voltou, nem já agora voltará, porque ainda
os vendilhões da honra alheia entram ao templo da familia, e as mulheres
adulteras erguem vozes e pedras contra a que resvalou para o abysmo em
que ellas estão.
A menina tratou de emmassar as cartas do morgado e de metter no seio o
bilhetinho que já tivemos occasião de lêr.
Esperou que fosse noite, e metteu-se a caminho.
Onde ia a pobresinha?
Procurar o morgado ao Porto.
Foi andando, andando, rasgando os pés nas burguas das serras,
rompendo a escuridão, arquejante, timida do menor ruido, resoluta da
coragem que dá o desespero, até que, cerca das onze horas da noite,
cahiu extenuada ao sopé das Victoreiras.
N'este lance entronca a minha primeira carta bastante a explicar o mais
que se passou.
Como se vê, o morgado não estava prevenido da fuga da menina e sob a
afllicção da surpresa escrevera as ameaças da primeira carta que recebi.
A gentil desconhecida, como a principio eu lhe chamava, tornou em si
depois de empregados muitos esforços para reanimal-a. Meu tio padre,
chamado por mim precipitadamente, encarregou-se do piedoso encargo de
recolher a menina em sua casa, e de negociar a sua entrada no convento
de *, onde se enclausurará depois que seja mãe.
O morgado, lendo casualmente no Porto uma das minhas cartas, publicadas
no _Primeiro de Janeiro_, escreveu-me a impensada missiva e logo se deu
pressa em partir, e em me convidar á entrevista que acceitei.
Tomará conta do filho, logo que nasça, e aproveitará decerto esta
tremenda lição.
Ainda agora me não parece dislate repetir a pergunta: Morta ou viva?
Viva para si mesma, e morta para o mundo.
Que desgraça!
Ah! Christo não voltará outra vez; a ter de voltar, já se haveria
amerciado de tantas miserias humanas!
FIM.
End of the Project Gutenberg EBook of Christo não volta, by Alberto Pimentel
*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK CHRISTO NÃO VOLTA ***
***** This file should be named 32381-8.txt or 32381-8.zip *****
This and all associated files of various formats will be found in:
https://www.gutenberg.org/3/2/3/8/32381/
Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images
of public domain material from Google Book Search)
Updated editions will replace the previous one--the old editions
will be renamed.
Creating the works from public domain print editions means that no
one owns a United States copyright in these works, so the Foundation
(and you!) can copy and distribute it in the United States without
permission and without paying copyright royalties. Special rules,
set forth in the General Terms of Use part of this license, apply to
copying and distributing Project Gutenberg-tm electronic works to
protect the PROJECT GUTENBERG-tm concept and trademark. Project
Gutenberg is a registered trademark, and may not be used if you
charge for the eBooks, unless you receive specific permission. If you
do not charge anything for copies of this eBook, complying with the
rules is very easy. You may use this eBook for nearly any purpose
such as creation of derivative works, reports, performances and
research. They may be modified and printed and given away--you may do
practically ANYTHING with public domain eBooks. Redistribution is
subject to the trademark license, especially commercial
redistribution.
*** START: FULL LICENSE ***
THE FULL PROJECT GUTENBERG LICENSE
PLEASE READ THIS BEFORE YOU DISTRIBUTE OR USE THIS WORK
To protect the Project Gutenberg-tm mission of promoting the free
distribution of electronic works, by using or distributing this work
(or any other work associated in any way with the phrase "Project
Gutenberg"), you agree to comply with all the terms of the Full Project
Gutenberg-tm License (available with this file or online at
https://gutenberg.org/license).
Section 1. General Terms of Use and Redistributing Project Gutenberg-tm
electronic works
1.A. By reading or using any part of this Project Gutenberg-tm
electronic work, you indicate that you have read, understand, agree to
and accept all the terms of this license and intellectual property
(trademark/copyright) agreement. If you do not agree to abide by all
the terms of this agreement, you must cease using and return or destroy
all copies of Project Gutenberg-tm electronic works in your possession.
If you paid a fee for obtaining a copy of or access to a Project
Gutenberg-tm electronic work and you do not agree to be bound by the
terms of this agreement, you may obtain a refund from the person or
entity to whom you paid the fee as set forth in paragraph 1.E.8.
1.B. "Project Gutenberg" is a registered trademark. It may only be
used on or associated in any way with an electronic work by people who
agree to be bound by the terms of this agreement. There are a few
things that you can do with most Project Gutenberg-tm electronic works
even without complying with the full terms of this agreement. See
paragraph 1.C below. There are a lot of things you can do with Project
Gutenberg-tm electronic works if you follow the terms of this agreement
and help preserve free future access to Project Gutenberg-tm electronic
works. See paragraph 1.E below.
1.C. The Project Gutenberg Literary Archive Foundation ("the Foundation"
or PGLAF), owns a compilation copyright in the collection of Project
Gutenberg-tm electronic works. Nearly all the individual works in the
collection are in the public domain in the United States. If an
individual work is in the public domain in the United States and you are
located in the United States, we do not claim a right to prevent you from
copying, distributing, performing, displaying or creating derivative
works based on the work as long as all references to Project Gutenberg
are removed. Of course, we hope that you will support the Project
Gutenberg-tm mission of promoting free access to electronic works by
freely sharing Project Gutenberg-tm works in compliance with the terms of
this agreement for keeping the Project Gutenberg-tm name associated with
the work. You can easily comply with the terms of this agreement by
keeping this work in the same format with its attached full Project
Gutenberg-tm License when you share it without charge with others.
1.D. The copyright laws of the place where you are located also govern
what you can do with this work. Copyright laws in most countries are in
a constant state of change. If you are outside the United States, check
the laws of your country in addition to the terms of this agreement
before downloading, copying, displaying, performing, distributing or
creating derivative works based on this work or any other Project
Gutenberg-tm work. The Foundation makes no representations concerning
the copyright status of any work in any country outside the United
States.
1.E. Unless you have removed all references to Project Gutenberg:
1.E.1. The following sentence, with active links to, or other immediate
access to, the full Project Gutenberg-tm License must appear prominently
whenever any copy of a Project Gutenberg-tm work (any work on which the
phrase "Project Gutenberg" appears, or with which the phrase "Project
Gutenberg" is associated) is accessed, displayed, performed, viewed,
copied or distributed:
This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or
re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
with this eBook or online at www.gutenberg.org
1.E.2. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is derived
from the public domain (does not contain a notice indicating that it is
posted with permission of the copyright holder), the work can be copied
and distributed to anyone in the United States without paying any fees
or charges. If you are redistributing or providing access to a work
with the phrase "Project Gutenberg" associated with or appearing on the
work, you must comply either with the requirements of paragraphs 1.E.1
through 1.E.7 or obtain permission for the use of the work and the
Project Gutenberg-tm trademark as set forth in paragraphs 1.E.8 or
1.E.9.
1.E.3. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is posted
with the permission of the copyright holder, your use and distribution
must comply with both paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 and any additional
terms imposed by the copyright holder. Additional terms will be linked
to the Project Gutenberg-tm License for all works posted with the
permission of the copyright holder found at the beginning of this work.
1.E.4. Do not unlink or detach or remove the full Project Gutenberg-tm
License terms from this work, or any files containing a part of this
work or any other work associated with Project Gutenberg-tm.
1.E.5. Do not copy, display, perform, distribute or redistribute this
electronic work, or any part of this electronic work, without
prominently displaying the sentence set forth in paragraph 1.E.1 with
active links or immediate access to the full terms of the Project
Gutenberg-tm License.
1.E.6. You may convert to and distribute this work in any binary,
compressed, marked up, nonproprietary or proprietary form, including any
word processing or hypertext form. However, if you provide access to or
distribute copies of a Project Gutenberg-tm work in a format other than
"Plain Vanilla ASCII" or other format used in the official version
posted on the official Project Gutenberg-tm web site (www.gutenberg.org),
you must, at no additional cost, fee or expense to the user, provide a
copy, a means of exporting a copy, or a means of obtaining a copy upon
request, of the work in its original "Plain Vanilla ASCII" or other
form. Any alternate format must include the full Project Gutenberg-tm
License as specified in paragraph 1.E.1.
1.E.7. Do not charge a fee for access to, viewing, displaying,
performing, copying or distributing any Project Gutenberg-tm works
unless you comply with paragraph 1.E.8 or 1.E.9.
1.E.8. You may charge a reasonable fee for copies of or providing
access to or distributing Project Gutenberg-tm electronic works provided
that
- You pay a royalty fee of 20% of the gross profits you derive from
the use of Project Gutenberg-tm works calculated using the method
you already use to calculate your applicable taxes. The fee is
owed to the owner of the Project Gutenberg-tm trademark, but he
has agreed to donate royalties under this paragraph to the
Project Gutenberg Literary Archive Foundation. Royalty payments
must be paid within 60 days following each date on which you
prepare (or are legally required to prepare) your periodic tax
returns. Royalty payments should be clearly marked as such and
sent to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation at the
address specified in Section 4, "Information about donations to
the Project Gutenberg Literary Archive Foundation."
- You provide a full refund of any money paid by a user who notifies
you in writing (or by e-mail) within 30 days of receipt that s/he
does not agree to the terms of the full Project Gutenberg-tm
License. You must require such a user to return or
destroy all copies of the works possessed in a physical medium
and discontinue all use of and all access to other copies of
Project Gutenberg-tm works.
- You provide, in accordance with paragraph 1.F.3, a full refund of any
money paid for a work or a replacement copy, if a defect in the
electronic work is discovered and reported to you within 90 days
of receipt of the work.
- You comply with all other terms of this agreement for free
distribution of Project Gutenberg-tm works.
1.E.9. If you wish to charge a fee or distribute a Project Gutenberg-tm
electronic work or group of works on different terms than are set
forth in this agreement, you must obtain permission in writing from
both the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and Michael
Hart, the owner of the Project Gutenberg-tm trademark. Contact the
Foundation as set forth in Section 3 below.
1.F.
1.F.1. Project Gutenberg volunteers and employees expend considerable
effort to identify, do copyright research on, transcribe and proofread
public domain works in creating the Project Gutenberg-tm
collection. Despite these efforts, Project Gutenberg-tm electronic
works, and the medium on which they may be stored, may contain
"Defects," such as, but not limited to, incomplete, inaccurate or
corrupt data, transcription errors, a copyright or other intellectual
property infringement, a defective or damaged disk or other medium, a
computer virus, or computer codes that damage or cannot be read by
your equipment.
1.F.2. LIMITED WARRANTY, DISCLAIMER OF DAMAGES - Except for the "Right
of Replacement or Refund" described in paragraph 1.F.3, the Project
Gutenberg Literary Archive Foundation, the owner of the Project
Gutenberg-tm trademark, and any other party distributing a Project
Gutenberg-tm electronic work under this agreement, disclaim all
liability to you for damages, costs and expenses, including legal
fees. YOU AGREE THAT YOU HAVE NO REMEDIES FOR NEGLIGENCE, STRICT
LIABILITY, BREACH OF WARRANTY OR BREACH OF CONTRACT EXCEPT THOSE
PROVIDED IN PARAGRAPH F3. YOU AGREE THAT THE FOUNDATION, THE
TRADEMARK OWNER, AND ANY DISTRIBUTOR UNDER THIS AGREEMENT WILL NOT BE
LIABLE TO YOU FOR ACTUAL, DIRECT, INDIRECT, CONSEQUENTIAL, PUNITIVE OR
INCIDENTAL DAMAGES EVEN IF YOU GIVE NOTICE OF THE POSSIBILITY OF SUCH
DAMAGE.
1.F.3. LIMITED RIGHT OF REPLACEMENT OR REFUND - If you discover a
defect in this electronic work within 90 days of receiving it, you can
receive a refund of the money (if any) you paid for it by sending a
written explanation to the person you received the work from. If you
received the work on a physical medium, you must return the medium with
your written explanation. The person or entity that provided you with
the defective work may elect to provide a replacement copy in lieu of a
refund. If you received the work electronically, the person or entity
providing it to you may choose to give you a second opportunity to
receive the work electronically in lieu of a refund. If the second copy
is also defective, you may demand a refund in writing without further
opportunities to fix the problem.
1.F.4. Except for the limited right of replacement or refund set forth
in paragraph 1.F.3, this work is provided to you 'AS-IS' WITH NO OTHER
WARRANTIES OF ANY KIND, EXPRESS OR IMPLIED, INCLUDING BUT NOT LIMITED TO
WARRANTIES OF MERCHANTIBILITY OR FITNESS FOR ANY PURPOSE.
1.F.5. Some states do not allow disclaimers of certain implied
warranties or the exclusion or limitation of certain types of damages.
If any disclaimer or limitation set forth in this agreement violates the
law of the state applicable to this agreement, the agreement shall be
interpreted to make the maximum disclaimer or limitation permitted by
the applicable state law. The invalidity or unenforceability of any
provision of this agreement shall not void the remaining provisions.
1.F.6. INDEMNITY - You agree to indemnify and hold the Foundation, the
trademark owner, any agent or employee of the Foundation, anyone
providing copies of Project Gutenberg-tm electronic works in accordance
with this agreement, and any volunteers associated with the production,
promotion and distribution of Project Gutenberg-tm electronic works,
harmless from all liability, costs and expenses, including legal fees,
that arise directly or indirectly from any of the following which you do
or cause to occur: (a) distribution of this or any Project Gutenberg-tm
work, (b) alteration, modification, or additions or deletions to any
Project Gutenberg-tm work, and (c) any Defect you cause.
Section 2. Information about the Mission of Project Gutenberg-tm
Project Gutenberg-tm is synonymous with the free distribution of
electronic works in formats readable by the widest variety of computers
including obsolete, old, middle-aged and new computers. It exists
because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from
people in all walks of life.
Volunteers and financial support to provide volunteers with the
assistance they need are critical to reaching Project Gutenberg-tm's
goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will
remain freely available for generations to come. In 2001, the Project
Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure
and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations.
To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation
and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4
and the Foundation web page at https://www.pglaf.org.
Section 3. Information about the Project Gutenberg Literary Archive
Foundation
The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit
501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the
state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal
Revenue Service. The Foundation's EIN or federal tax identification
number is 64-6221541. Its 501(c)(3) letter is posted at
https://pglaf.org/fundraising. Contributions to the Project Gutenberg
Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent
permitted by U.S. federal laws and your state's laws.
The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S.
Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered
throughout numerous locations. Its business office is located at
809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email
[email protected]. Email contact links and up to date contact
information can be found at the Foundation's web site and official
page at https://pglaf.org
For additional contact information:
Dr. Gregory B. Newby
Chief Executive and Director
[email protected]
Section 4. Information about Donations to the Project Gutenberg
Literary Archive Foundation
Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide
spread public support and donations to carry out its mission of
increasing the number of public domain and licensed works that can be
freely distributed in machine readable form accessible by the widest
array of equipment including outdated equipment. Many small donations
($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt
status with the IRS.
The Foundation is committed to complying with the laws regulating
charities and charitable donations in all 50 states of the United
States. Compliance requirements are not uniform and it takes a
considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up
with these requirements. We do not solicit donations in locations
where we have not received written confirmation of compliance. To
SEND DONATIONS or determine the status of compliance for any
particular state visit https://pglaf.org
While we cannot and do not solicit contributions from states where we
have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition
against accepting unsolicited donations from donors in such states who
approach us with offers to donate.
International donations are gratefully accepted, but we cannot make
any statements concerning tax treatment of donations received from
outside the United States. U.S. laws alone swamp our small staff.
Please check the Project Gutenberg Web pages for current donation
methods and addresses. Donations are accepted in a number of other
ways including including checks, online payments and credit card
donations. To donate, please visit: https://pglaf.org/donate
Section 5. General Information About Project Gutenberg-tm electronic
works.
Professor Michael S. Hart was the originator of the Project Gutenberg-tm
concept of a library of electronic works that could be freely shared
with anyone. For thirty years, he produced and distributed Project
Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support.
Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed
editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S.
unless a copyright notice is included. Thus, we do not necessarily
keep eBooks in compliance with any particular paper edition.
Most people start at our Web site which has the main PG search facility:
https://www.gutenberg.org
This Web site includes information about Project Gutenberg-tm,
including how to make donations to the Project Gutenberg Literary
Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to
subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks.
Christo não volta (Resposta ao «Voltareis, ó Christo?» de Camillo Castello-Branco)
Download Formats:
Excerpt
The Project Gutenberg EBook of Christo não volta, by Alberto Pimentel
This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or
re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
with this eBook or online at www.gutenberg.org
Title: Christo não volta
(Resposta ao «Voltareis, ó Christo?» de Camillo Castello-Branco)
Read the Full Text
— End of Christo não volta (Resposta ao «Voltareis, ó Christo?» de Camillo Castello-Branco) —
Book Information
- Title
- Christo não volta (Resposta ao «Voltareis, ó Christo?» de Camillo Castello-Branco)
- Author(s)
- Pimentel, Alberto
- Language
- Portuguese
- Type
- Text
- Release Date
- May 15, 2010
- Word Count
- 9,987 words
- Library of Congress Classification
- PQ
- Bookshelves
- Browsing: Literature
- Rights
- Public domain in the USA.
Related Books
A triste canção do sul (subsidios para a historia do fado)
by Pimentel, Alberto
Portuguese
955h 46m read
Rainha sem reino (Estudo historico do seculo XV)
by Pimentel, Alberto
Portuguese
737h 42m read
Idyllios á beira d'agua - Romance original
by Pimentel, Alberto
Portuguese
604h 33m read
As Netas do Padre Eterno - Romance original
by Pimentel, Alberto
Portuguese
619h 38m read
A guerrilha de Frei Simão: romance historico
by Pimentel, Alberto
Portuguese
1240h 12m read
Historias de Reis e Principes
by Pimentel, Alberto
Portuguese
1133h 53m read