The Project Gutenberg eBook, Da importancia da Historia Universal
Philosophica na esphera dos conhecimentos humanos, by Alberto Pimentel
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Title: Da importancia da Historia Universal Philosophica na esphera dos conhecimentos humanos
Author: Alberto Pimentel
Release Date: July 3, 2010 [eBook #33068]
Language: Portuguese
Character set encoding: ISO-8859-1
***START OF THE PROJECT GUTENBERG EBOOK DA IMPORTANCIA DA HISTORIA
UNIVERSAL PHILOSOPHICA NA ESPHERA DOS CONHECIMENTOS HUMANOS***
E-text prepared by Pedro Saborano
DA IMPORTANCIA
DA
HISTORIA UNIVERSAL
PHILOSOPHICA
NA
ESPHERA DOS CONHECIMENTOS HUMANOS
DISSERTAÇÃO
PARA O CONCURSO DA PRIMEIRA CADEIRA (HISTORIA UNIVERSAL E PATRIA)
DO
CURSO SUPERIOR DE LETRAS
APRESENTADA PELO CANDIDATO
ALBERTO PIMENTEL
LIVRARIA INTERNACIONAL
DE
ERNESTO CHARDRON EUGENIO CHARDRON
Porto Braga
1878
* * * * *
DA IMPORTANCIA
DA
HISTORIA UNIVERSAL
PHILOSOPHICA
NA
ESPHERA DOS CONHECIMENTOS HUMANOS
* * * * *
DA IMPORTANCIA
DA
HISTORIA UNIVERSAL
PHILOSOPHICA
NA
ESPHERA DOS CONHECIMENTOS HUMANOS
DISSERTAÇÃO
PARA O CONCURSO DA PRIMEIRA CADEIRA (HISTORIA UNIVERSAL E PATRIA)
DO
CURSO SUPERIOR DE LETRAS
APRESENTADA PELO CANDIDATO
ALBERTO PIMENTEL
LIVRARIA INTERNACIONAL
DE
ERNESTO CHARDRON EUGENIO CHARDRON
Porto Braga
1878
* * * * *
Porto: 1878--Typ. de A. J. da Silva Teixeira, Cancella Velha, 62
* * * * *
DA IMPORTANCIA
DA
HISTORIA UNIVERSAL
PHILOSOPHICA
NA
ESPHERA DOS CONHECIMENTOS HUMANOS
João Baptista Vico, remontando-se á infancia poetica das sociedades
humanas, vai encontrar a origem da _curiosidade, filha da ignorancia e
mãi da sciencia_, n'um phenomeno natural que effectivamente devia de
impressionar profundamente os sentidos e a imaginação dos homens
primitivos.
Acceitando da tradição biblica o facto do diluvio, e dando á terra o
tempo sufficiente para enxugar da inundação universal e para exhalar os
vapores seccos proprios a formarem o raio, descreve a impressão que no
espirito dos gigantes _vigorosos_ e _robustos_, que então povoavam a
terra, causára o coriscar d'aquelle meteóro através do ether, e o
interesse com que ficaram olhando para o céo que desde logo consideraram
como um immenso corpo animado, o qual alguma cousa queria decerto
exprimir por meio d'essa estranha linguagem de fogo.
Personificando toda a immensidade do céo no grande deus chamado Jove,
que tinha por sceptro o raio, e que por toda a parte os seguia, por isso
que toda a terra era coberta pelo céo, o que, segundo Vico, explica a
phrase _Jovis omnia plena_, que Platão julgou dever traduzir por ether,
os gigantes da terra renderam o primeiro culto á curiosidade, d'onde,
como de uma semente abençoada, devia brotar o fructo precioso de todos
os conhecimentos humanos.
Quer acceitemos a tradição religiosa do diluvio universal, determinado
por Deus para refundir toda a humanidade com a familia salva na arca de
Noé, quer consideremos essa inundação geral como uma simples phase
geologica, caracterisada por phenomenos glaciarios, o facto poeticamente
narrado pelo philosopho napolitano subsiste em essencia, e, a nosso vêr,
é de todo o ponto provavel, e quasi certo, que fosse um phenomeno
meteorologico o primeiro estimulo da curiosidade humana.
Vico lembra, afim de fazer acceitar a sua asserção, que ainda hoje os
phenomenos naturaes lançam uma profunda impressão no animo de muitas
pessoas, e cita especialmente, entre todos esses phenomenos, o da
apparição de um cometa.
Despertada a imaginação do homem pelo sentimento da curiosidade, entrou
elle no periodo mais laborioso e ao mesmo passo poetico da infancia da
humanidade. Era até ahi como um pobre cego lançado na vastidão de um
mundo desconhecido e mysterioso. Mas a chamma electrica do raio veio,
para assim dizer, rarear as trevas da sua immensa cegueira; essa luz
estranha converteu-se para elle, como se não fosse movel e fugitiva mas
fixa e duradoura, n'uma como estrella de guia, que o obrigou a altear o
pensamento para além das brenhas da terra em que como selvagem vivia.
Assim como a criança tem deante de si, sem o presentir, sem o suspeitar,
uma tarefa enorme a cumprir, o peso d'uma responsabilidade immensa,
porque chegará um dia em que ella devera crear, permitta-se-nos a
expressão, o mundo da sua existencia, construindo um ninho como as aves,
organisando uma familia, norteando-a, como piloto, através dos mares
aparcellados da vida; assim a humanidade era, n'esse periodo da sua
infancia, chamada a cumprir a grandiosa missão de adaptar o mundo
inteiro, como um ninho enorme, ás necessidades da sua existencia, de
desbravar os caminhos por onde devia fazer a jornada dos seculos; de
aproveitar todas as forças da natureza e as suas proprias, de as
harmonisar, de as educar convenientemente para um fim commum; de pegar
dos elementos creados e fundir com elles a gigantesca estatua da
humanidade, com toda a perfeição relativa de contornos e relevos que
hoje tem, porque a humanidade não era mais na sua infancia que um esboço
que importava accentuar, um molde que cumpria encher, uma força que
tinha de desenvolver-se a si propria.
Mas assim como a criança lentamente e quasi inconscientemente enceta a
obra do seu futuro, carreando uma pedra dia a dia, dando hoje um passo,
outro ámanhã, refundindo o seu espirito com o auxilio da primeira
instrucção; assim tambem a humanidade se foi transformando por
successivos esforços e progressos, fazendo hoje uma conquista, ámanhã
uma creação, enchendo a pouco e pouco o molde vazio em que, estatua,
tinha de fundir-se e completar-se.
Pelo desenvolvimento da humanidade no momento actual é-nos facil avaliar
a grandeza do seu trabalho através dos seculos, desde a origem do mundo
até hoje. Religião, linguagem, agricultura, governo, industrias,
commercio, artes, sciencias, tudo isso ella foi creando por um trabalho
lento, que principiou por elementos simples, como se póde por exemplo
ver na linguagem, onde o monosyllabo veio finalmente a converter-se nas
linguas de flexão; na religião, onde a primeira elevação da alma para as
forças da natureza, que foram encarnadas em symbolos grosseiros, veio a
transformar-se na concepção grandiosa da divindade immaterial e
absolutamente perfeita; no estabelecimento dos estados, onde o poder
theocratico veio a parar nas modernas fórmas de governo que se pódem
variar segundo o interesse geral; na agricultura, onde a rude cultura da
terra, a que o instincto impellia, se desdobrou na agronomia moderna,
sciencia complexa, a que as invenções dos Dombasle, Fowler e Howard
servem de diadema auriluzente; nas industrias, onde a vida pastoril
exercida pelas tribus nómadas, e a da pesca, exercida pelas povoações
costeiras, vieram a multiplicar-se na immensa diversidade de profissões
e officios a que se dedicam as classes contemporaneas; no commercio,
onde a simples troca de productos, n'uma área muito limitada, veio a
metamorphosear-se nas grandes operações commerciaes que se alargam por
todo o mundo, graças á invenção da moeda, aos progressos da navegação,
aos rapidos meios de transporte; nas artes, onde os instrumentos de
silex se transmudaram nos mais completos processos mechanicos, e os
megalithos, que tanto se teem estudado hoje[1], vieram a converter-se
nos grandiosos monumentos de nossos dias; nas sciencias, onde, por
exemplo, a astronomia caminhou desde os pastores da Chaldéa, que
contemplavam os astros, sentados nas eminencias penhascosas, pelo
silencio da noite, até que essa sciencia celeste terminou com Newton,
como diz Larousse, a sua evolução historica.
Durante esta obra de seculos, emquanto as bellas instituições da
humanidade se fixavam na terra tão nova como ella, ao mesmo tempo que as
plantas enraizavam no solo e bebiam os succos nutritivos n'uma
exuberancia caudal, os homens, como a criança, só poderam olhar para
deante, para o futuro. O seu berço ficava ainda tão perto que não havia
tempo de ter brotado d'elle esse doce sentimento que as lagrimas
purificam, e que não poucas vezes conduz á reconstrucção do passado pela
memoria,--a saudade; ou antes, como diz Cantu[2], _os antigos tinham
ainda muito poucas ruinas deante de si_, phrase que Edgar Quinet repetiu
[3],--e sendo o passado o campo aberto ás investigações da historia,
onde quasi não havia passado não podia haver historia.
Sim. Dai um montão de ruinas ao homem, e conseguireis fazer d'elle um
historiador. Uma vertebra, que no fim de contas é uma ruina do vasto
edificio zoologico, bastou a Cuvier para a reconstrucção do passado. É
pelo esqueleto das gerações que nos antecederam que os sabios de nossos
dias teem realisado as mais assombrosas conquistas da sciencia moderna.
Mas havia transcorrido o tempo e as nacionalidades tinham sahido
recentemente do berço, porque a humanidade gastára longo periodo da sua
infancia na vida errante e rude primeiro que podesse constituir-se em
tribu, e que da tribu nascesse a nação. Como acontece com as grandes
obras d'arte, as instituições humanas foram modeladas por um esboço, e
aperfeiçoadas depois. O esboço da nação foi a tribu.
Parece-nos, porém, questionavel a fixação do periodo de desenvolvimento
humano em que se constituiram as primeiras sociedades.
«Na verdade, diz Cantu, como podiam os laços do matrimonio e da
paternidade tomar-se deveres antes do homem comprehender o bem que
d'isto deriva e os meios de o alcançar? Como conceberia as vantagens da
sociedade o que nunca as tivesse experimentado? Para que os homens se
unam entre si, e façam um pacto social, é forçoso que possuam uma
linguagem commum para se entenderem uns aos outros, e fórmas de
convenção, de assembléas, e de representação; isto é, que estejam
reunidos já em sociedade.»
Não concordamos, a este respeito, com a opinião de Cantu, pelas razões
seguintes.
As relações naturaes a que o auctor da _Historia universal_ allude na
primeira interrogação, e que, segundo elle, importam a comprehensão dos
deveres que d'ellas derivam, annullam, assim encaradas, a idéa de
instincto, facto comprovado em todas as especies animaes, e até nas
vegetaes. Para as aves, por exemplo, os laços d'essas relações naturaes
convertem-se em deveres, e todavia nós não podemos suppôr nas aves a
noção moral de dever. Emquanto, entre algumas familias aladas, a mãi
acalenta o ovo, o pai divaga procurando alimento para a femea, e muitos
naturalistas citam o facto de certas aves _educarem_ seus filhos no que
chamaremos _arte do vôo_, antes de os abandonarem a si mesmos.
Quanto á segunda interrogação, convem distinguir entre o facto de
constituir sociedade e o conhecimento das vantagens que d'ella resultam.
Tambem poderemos suppôr nas aves, que se agremiam em grandes bandos, o
conhecimento das vantagens que d'essa aggremiação resultam? As formigas,
que vivem e trabalham em commum, obedecerão simplesmente ao instincto de
conservação, ou serão impellidas pela elevada idéa da utilidade de
associação?
Quanto á terceira interrogação, isto é, á necessidade de uma linguagem
commum para que os homens possam reunir-se por um pacto social,
desejamos accentuar mais largamente a nossa maneira de pensar.
Não somos da opinião dos que affirmam que haja tribus completamente
privadas de linguagem, mas entendemos com sir John Lubbock[4] que essas
tribus possuem todas uma linguagem, comquanto muito imperfeita e
complicada de signaes.
Bastará citar em abono d'esta asserção o facto de entre os indios
kiawa-kaskaia as tribus communicarem diariamente entre si, segundo o
testimunho de James[5], ignorando completamente a linguagem umas das
outras. «Pelo que não é raro, diz James, vêr dous individuos,
pertencentes a tribus differentes, sentados no sólo, conversando
facilmente por signaes. São muito habeis em exprimir por este modo as
suas idéas, e apenas interrompem o jogo das mãos, a longos intervallos,
por um sorriso ou por uma palavra pronunciada no idioma dos indios crow,
o mais espalhado ainda entre elles.»
Por onde nos é licito vêr que sobre a mais imperfeita e rudimentar
linguagem, a dos signaes, estabelecem os indios kiawa-kaskaia as mais
cordeaes relações de sociabilidade com as tribus visinhas. Finalmente, a
theoria de Vico, dos _povos mudos_, exprimindo-se por meio de corpos ou
de imagens, que tinham alguma relação natural com as idéas que queriam
exprimir, por exemplo, _tres espigas_ para significarem a idéa abstracta
de _tres annos_[6], é manifestamente muito mais acceitavel do que a de
Cantu, porque se funda na propria natureza humana, e destroe a opinião
de que sem uma linguagem, no estado de perfeição em que Cesar Cantu
parece suppol-a, a associação humana é inadmissivel.
O dr. Luiz Büchner[7] confirma a opinião de Vico. Crê, segundo Westropp,
que o homem primitivo foi necessariamente um sêr mudo, e a linguagem
articulada uma acquisição lenta e gradual; que ella teve por origem os
gritos espontaneos de prazer e dôr, a que succederam os sons imitativos
(_onomatopéas_), razão por que na grande variedade de todas as linguas
(cerca de tres mil) ha um numero consideravel de sons equivalentes, e
até mais ou menos analogos. Cita uma observação de William Bell, a
respeito do monosyllabo _loh_, empregado em muitas linguas para designar
a luz, a chamma, e que procede da simples exclamação _oh!_ precedida de
um _l_ ou de uma vibração da lingua. Crê que a pouco e pouco se foram
formando os polysyllabos, pela repetição de um som simples, como nas
palavras _mamã_, _papá_ ou pela agglutinação das syllabas. «Depois,
observa finalmente, o simples grito, correspondente a um sentimento, foi
_imitado pelos companheiros d'aquelle_ que o soltou, e acabou por
tornar-se um signal representativo fixo servindo a designar o proprio
sentimento.»
Aqui temos nós a linguagem, não como base de sociedade, mas, ao
contrario, tomando a sociedade como base da sua perfeição.
Estabelecida a procreação pelo instincto, força irresistivel da natureza
humana, que principiou a manifestar-se no homem desde os seus primeiros
passos na terra, achando-se ainda embryonarias todas as forças moraes e
intellectuaes, que por um lento progresso permittiram depois as mais
elevadas concepções, e as mais assombrosas conquistas, foi ainda o
instincto que levou a humanidade a lançar mão das primeiras industrias,
da vida pastoril, da caça, da pesca, do commercio, segundo as condições
naturaes dos paizes. «Assim as diversas industrias, diz Cantu, nasceram
e cresceram na razão dos lugares; porém a agricultura foi a que
introduziu maiores mudanças na constituição moral. O homem, querendo,
quando cultivou um campo, seguir com a vista as esperanças que lhe dava,
construiu junto d'elle uma habitação; então aquelle sentimento tão
imperioso, que chamamos amor da patria, apparece, e a estabilidade do
lar domestico dá origem á associação civil.» Mas o _lar domestico_ a que
se refere Cantu está longe de ser a moralidade pela familia, pela
familia que a monogamia santificou. O agricultor vivia rodeado dos seus
escravos, e dos filhos; de procedencias diversas, escravos tambem. O pai
era o _senhor_; governava pela força. A mulher era simplesmente uma
_cousa_, um instrumento de reproducção; e as mais das vezes era
arrebatada á sua tribu por violencia. Portanto, as primeiras familias
foram uma reunião de escravos dominados por um chefe, só muito tarde,
como mostra Lubbock[8], baseando-se nos trabalhos de Bachofen, M. Lennan
e Morgan, é que se reconheceu que os filhos eram parentes de seu pai e
de sua mãi. Mesmo em Roma, a palavra familia significava--escravos.--A
mulher e os filhos só por serem escravos eram considerados familia.
Vico mostra, por uma observação philologica, a verdade d'estas
affirmações. Sustentando, como na formação da linguagem, os _verbos_
vieram depois dos _nomes_, e como os primeiros verbos foram
certamente aquelles que são como que os _generos_ ou os _radicaes_ de
todos os outros, exemplo, _sum_, que contém _todas as cousas
metaphysicas_,--_sto_, que exprime a immobilidade, e _eo_, que significa
o movimento, observa por ultimo que estes verbos apenas tiveram a
principio o modo _imperativo_, porque no _estado de familia_, e na
excessiva pobreza de linguagem que então havia, só os _paes_ davam
ordens a seus _filhos ou a seus criados_, ao passo que estes,
_submettidos ao terrivel imperio do chefe de familia, obedeciam sem
murmurios ás suas ordens_[9]. Ainda hoje, entre os kalmuckos do Volga, o
azorrague é o sceptro e o symbolo do poder domestico[10].
Foi certamente com esta mesma força de auctoridade que nasceu o chefe de
tribu. Se a reunião de algumas pessoas carecia de uma que a regesse, a
reunião de algumas _familias_, por maioria de razão, carecia de um
magistrado que a governasse. Os chefes de _familia_ ou _senhores_
reuniam-se para se entregarem, em condições de segurança, ao exercicio
da caça. Escolhiam certamente d'entre elles, para os dirigir, o que mais
se assignalava pela destreza e certeza de caçador. Reconhecida a sua
superioridade natural, ficava sendo o dominador da tribu. E esta
authoridade devia ser tanto mais respeitada e temida, quanto era certo
que se baseava n'um facto indestructivel e inevitavel, revestido de
caracter divino, porque a força era um attributo que não dependia da
vontade do homem.
Da agglomeração das tribus nasceu a nação, como da agglomeração das
_familias_ havia nascido a tribu.
Sendo, porém, maior o numero de governados na nação do que na tribu, era
preciso que o chefe escolhido para governal-os dispozesse de qualidades
physicas ainda muito mais consideraveis. A mais importante de todas
essas qualidades era a força, que, n'uma raça de valentes, não podia
deixar de considerar-se um direito hereditario para governar. Cesar
Cantu observa que o vocabulo _dynastia_ (de _dynamis_, força) indica a
origem de um tal poderio.
Temos, finalmente, fixada a nação, a nacionalidade, sob o imperio da
força, origem dos grandes como dos pequenos estados, em todos os paizes
e tempos. Citemos dous exemplos, ao acaso. «Romulo e os seus
successores, diz Montesquieu[11], estiveram quasi sempre em guerra com
os povos visinhos para ter cidadãos, mulheres ou terras; voltavam a
cidade com os despojos dos vencidos; eram feixes de trigo e rebanhos: o
que causava uma grande alegria. Eis-aqui a origem dos triumphos que
foram no futuro a principal causa das grandezas a que esta cidade
chegou.» A origem da moderna e pequena monarchia portugueza encarna-se,
para assim dizer, na athletica figura de Affonso Henriques, o terrivel
perseguidor dos mouros, o guerreiro de estatura agigantada.
A propria origem das primeiras nacionalidades as impelliu á guerra, que,
segundo Victor Cousin[12], é o instrumento terrivel mas necessario da
civilisação. «A hypothese de um estado de paz perpetua na especie
humana--diz elle--é a hypothese da immobilidade.» Comquanto não nos
exalte em favor da guerra esta opinião de Victor Cousin, somos todavia
levados a acreditar que a vida das primeiras nacionalidades se
fortaleceu pela guerra, como o corpo de uma criança se fortalece pela
gymnastica. Além do que, a victoria, lisonjeando o orgulho dos povos,
nobilitava, para assim dizer, as suas aspirações de grandeza, e
arrastava-os a assignalarem a si mesmos uma origem divina, aspiração que
é a primeira fonte das tradições poeticas d'esses mesmos povos[13].
Acordada, portanto, a imaginação popular, cerca-se o berço das nações
das brumas do maravilhoso.
Os quatro livros sagrados de Confucio, reconstruidos de memoria, depois
de haverem sido queimados, e acrescentados com tradições, fazem remontar
a historia da China, especialmente o ultimo livro, a um passado
fabuloso. Na mais antiga parte dos _Vedas_, o _Rigveda_, os indios
agradecem a intervenção do poder celeste nos seus combates. Indra
protege a carnificina, como nós, quando procurámos uma origem
maravilhosa, fizemos intervir Christo na batalha de Ourique.
Por um lado as tradições poeticas, as narrativas fabulosas geraram a
Historia. Por outro lado os factos reaes, especialmente os combates,
misturados com as legendas phantasticas, desenvolveram-na.
Como para haver Historia é preciso que haja ruinas, a guerra foi o maior
elemento da Historia, porque produz cadaveres, e os cadaveres são as
ruinas da humanidade. Os seculos não passavam impunemente, sem fazer
destroços. Na China, a monarchia dos _Hia_, que durou quatrocentos
annos, acabou acompanhada de graves perturbações. Eis-aqui como foram
augmentando os materiaes da Historia: ruinas e destroços.
Foi assim que, semelhante ao sol que nasce velado pelos vapores
coloridos da manhã, surgiu, na successão dos tempos, a historia de cada
nação, envolta nas tradições maravilhosas da sua origem poetica.
Que interessado enthusiasmo não devia de ser, porém, o dos primeiros
homens que puderam quebrar imaginariamente o sello sagrado da sepultura
das gerações que os precederam no perimetro da sua nação, e soprar-lhes
vida nova, imitando a fabula de Pygmalião, o estatuario divino, e
dar-lhes pensamento e voz, e ouvil-as, e collocal-as á volta de si
mesmos, vendo-as passar em turbilhões phantasticos como na formosa
ballada da dança dos mortos! O historiador, por uma arrojada abstracção,
collocava-se fóra do seu paiz, e com uma poderosa alavanca, muito
semelhante á que o sabio Archimedes pedira ao rei Hieron, levantava a
terra que lhe fôra berço com o peso enorme das gerações que a povoaram,
mostrando-a suspensa aos olhos do mundo. Era realmente assombrosa esta
nova conquista do pensamento humano, tanto mais que podia o homem
transmittil-a aos seus successores por meio da tradição escripta.
Sentiu-se decerto orgulhoso de si mesmo o homem que pôde legar aos seus
descendentes essa preciosa cadêa de ouro que o prendia ao passado, á
vida de seus avós, á gloria da antiguidade; fez, para assim dizer, um
presente de seculos aos seus descendentes, que, por sua vez,
arremessaram para a immensidade do futuro a outra extremidade da
corrente de ouro, a que as gerações subsequentes haviam de encadear
novos anneis.
Chegado á grande conquista do que chamaremos _faculdade historica_, isto
é, ao desenvolvimento intellectual que permittiu transpor os limites da
vida individual para se internar no estudo da vida nacional, apossou-se
o homem de um poder verdadeiramente superior, que lhe permittia
reconstruir o passado.
Se é attribuido a Christo o poder de ter resuscitado um só homem pelo
milagre, o homem logrou resuscitar a nação pela Historia.
Mas os primeiros historiadores deveram forçosamente de assemelhar-se a
estas arvores que, exuberantes de seiva na primavera, se cobrem
totalmente de flôres, como a amendoeira. A imaginação, excitada pela
tradição poetica[14], estava n'elles em pleno vigor, pompeava as suas
galas luxuriantes, á maneira das florestas virgens que se enredam em
labyrinthos de phantasiosas ramarias.
Sendo certo que o ardor da imaginação arrasta á excessiva credulidade,
os primeiros historiadores foram profundamente credulos, e bordaram as
suas narrações com todas as tradições, legendas e fabulas, que a
imaginação acceitára com prazer ou até com enthusiasmo.
Herodoto é um historiador poeta, que divinisa a Grecia; Tito-Livio dá
largas á imaginação para descrever e declamar; Suetonio contenta-se com
colleccionar anecdotas, que, por via de regra, tanto costumam lisonjear
os espiritos frivolos, porque são um brinco para a imaginação.
Na successão dos tempos o christianismo, com o seu cortejo de legendas
piedosas, com as exagerações proprias da exaltação da fé, contribuiu por
sua vez, e não pouco largamente, para prolongar o predominio da
imaginação na Historia, e retardar o advento do criterio philosophico e
independente.
Toda a gente sabe como a imaginação dos povos occidentaes se exaltava
com a posse das reliquias de um santo, n'uma época ainda relativamente
proxima de nós. Sicard, duque de Benevento, declarava guerra a Amalfi só
para obter os restos mortaes de Santa Triphomena. Theodoro, bispo de
Metz, preava em Roma, na presença do papa, a cadêa de S. Pedro, e jurava
que não a largaria sem que primeiro lhe cortassem as mãos, porque a
desejava possuir[15]. Jerusalem, a cidade celeste, apparecia ás
imaginações christãs como um sagrado jardim rociado pelas lagrimas de
Maria e pelo sangue de Jesus, e povoado das rosas de Engaddi, dos cedros
do Libano, das oliveiras de Gethsemani, para nos servirmos de uma
expressão alheia.
A cavallaria, em que o elemento christão se accentuou de modo a gerar as
ordens militares religiosas, veio ainda inçar a Historia com as
aventuras dos paladinos, com os matizes d'essa vida de imaginação, tão
futil mas tão pittoresca. A febre da cavallaria chegou a ser tamanha,
que bastará citar um só facto para comproval-a. Quando Carlos V foi
coroado em Bolonha, tocou com a espada na cabeça dos que desejavam ser
cavalleiros, dizendo a cada um: _Esto miles._ Mas como todos gritassem
em volta do rei: _Sire, sire, ad me, ad me_, Carlos V, estendendo a
espada sobre a multidão, viu-se obrigado a dizer: _No puedo mas. Estote
milites, estote milites, todos, todos_[16].
Na época a que nos vimos referindo, os historiadores engrinaldavam as
suas lucubrações com as flôres colhidas pela mão do amor e com as rosas
cortadas nos hortos de Jerusalem, pois que tanto valiam umas como
outras, como claramente demonstra o annel nupcial com que S. Luiz
brindou Margarida de Provença, o qual era formado de margaritas e de
lizes alternados, tendo no meio um cruciflxo circuitado por esta
inscripção: _Hors cet anel pourrions-nous trouver amor_[17]?
Na historia portugueza andaram por muito tempo dous episodios, que
tiveram por origem o maravilhoso da tradição religiosa e o maravilhoso
da tradição cavalheiresca. Referimo-nos ao milagre de Ourique, refutado
por Herculano, e á instituição da ordem de S. Miguel da Ala, refutada
por fr. Francisco de S. Luiz.
Quando havia de soar, porém, a hora em que o maravilhoso, o predominio
da imaginação, devia ser banido da Historia? em que essa especie de
_peccado original_ devia desapparecer batido pelo criterio philosophico?
Coube aos tempos modernos a gloria de refundir a Historia, de lhe dar um
novo rumo, de alargar as suas vistas espraiando-as por sobre toda a
humanidade. A primeira idéa da Historia universal nasceu no seculo XVII,
época relativamente muito recente, mas esta nova e grandissima conquista
do pensamento humano só tarde podia chegar. Era preciso deixar accumular
ruinas sobre ruinas, destroços sobre destroços, dar tempo a que os
imperios desabassem, a que as religiões desapparecessem, a que os
cadaveres dos homens e das instituições se amontoassem, para que de cima
de todos esses enormes escombros se levantasse sereno e altivo o
pensamento humano, semelhante a uma grande aguia, e alçasse o vôo até
pairar n'uma esphera superior e poder medir, com segura agudeza de
vista, a profundeza dos destinos da humanidade na successão dos seculos.
Victoria immensa foi essa, triumpho assombroso o que permittiu que o
homem alargasse por todo o mundo o dominio do seu espirito, que
reconstruisse a humanidade como os primeiros historiadores haviam
reconstruido a nação; que zombasse da morte animando as cinzas dos
cadaveres e povoando com elles, por um poder maravilhoso do espirito, os
imperios que tinham apparecido e desapparecido á face da terra, como
plantas marinhas que ora surgem fluctuando no dorso da onda, ora se
escondem nos sulcos profundos do oceano!
Desde o momento em que o homem pôde realisar esta synthese estupenda, o
maravilhoso, as tradições fabulosas fugiram espavoridos do dominio da
Historia. Outr'ora, como observa Edgar Quinet, «cada nação se fazia o
centro e o fim do universo, e se impunha á adoração do genero
humano[18]»; agora era o genero humano que se impunha á admiração de
cada nação. Perante o enorme conjuncto dos povos, já não podia pensar-se
em assignalar a origem de cada um singularmente; desapparecia o orgulho
nacional, o excessivo sentimento de amor patrio que procurava revestir
essa origem de ouropeis poeticos; agora era preciso procurar a filiação
da humanidade, estudar a sua apparição na terra, as suas divisões e
evoluções, e tomando a peito a resolução de tamanhos problemas não havia
tempo para estar a inventar fabulas, que ficavam esmagadas, como flôres
inuteis, sob o carro da nova idéa, ou antes da nova sciencia vencedora.
Como flôres inuteis, dissemos nós, e todavia devemos reflectir, avisados
por Victor Cousin[19], que os primeiros erros são inevitaveis e ao mesmo
passo uteis, porque fornecem a base de todo o progresso. De feito, não
se póde entender a idéa de progresso senão á vista de primordios que se
tornam defeituosos quando comparados com trabalhos posteriores. «Sem as
attrahentes chimeras da astrologia, sem as energicas decepções da
alchimia, por exemplo, onde teriamos nós haurido, pergunta Augusto
Comte, a constancia e o ardor necessarios para recolher as longas series
de observações e de experiencias que, mais tarde, teem servido de
fundamento ás primeiras theorias positivas de uma e outra classe de
phenomenos[20]»?
Até agora tinhamos diante de nós a Grecia, Carthago ou Roma, e feita a
historia separada de cada uma d'essas nações, julgavamos que tudo estava
feito. Pelo contrario, tudo principiará agora a fazer-se, tomando por
elementos de trabalho as ruinas d'esses emporios. Desde o momento em que
nos collocamos n'um plano superior a todas as nações, creamos a Historia
universal, e, conhecendo pela Historia universal os factos da vida dos
povos, salteou-nos o desejo de averiguar as relações que poderiam
existir entre os factos e as idéas, de conhecer se todos esses factos
seriam obra do acaso, ou se cada povo teria sido impellido por um mobil
secreto para o cumprimento de determinada lei e encarregado de
desempenhar uma missão no grande conjuncto da civilisação geral.
De tal desejo nasceu, no seculo XVIII, a Philosophia da historia.
Assim como a medicina seria uma sciencia imperfeitissima, destinada a
caminhar ás cegas, se a physiologia não houvesse podido penetrar na vida
interior do corpo humano, assim a Historia universal ficaria condemnada
a contemplar tão sómente o enorme vulto do gigante que se chama
humanidade, se a philosophia, desempenhando missão semelhante a da
physiologia no campo das sciencias medicas, não perscrutasse o que ha de
intimo e de secreto no seio d'esse colosso, se, por outras palavras, não
habilitasse a escrever a verdadeira historia da humanidade[21].
Uma nação constitue-se, florece e cahe. No fim de contas, pergunta um
philosopho[22], o que é uma nação de mais ou de menos na humanidade? E
tem razão. A Historia não passa além do tempo marcado á existencia
d'essa nação, quer dizer, acompanha-a até ao seu ultimo dia, mas a
Philosophia da historia procura estudar a influencia que essa nação
extincta imprimiu na sorte da humanidade, qual o papel que representou
no grande concerto dos destinos da civilisação.
Os povos são individualidades conscientes. Ora todos os factos
praticados por individualidades conscientes, embora hajam sido
determinados por causas variadas, representam uma idéa.
A Historia estuda os factos; a Philosophia estuda a idéa que cada um
d'esses factos envolve.
Portanto a Philosophia completa a Historia.
Bossuet, o sabio prelado de Meaux, foi quem primeiro executou a idéa de
uma Historia universal. Dedicando o seu vasto trabalho ao
Delphim,--vasto, sobretudo, em relação a época--procura lançar a vista
sobre a successão dos seculos, afim de que no espirito do principe
permaneçam gravados os traços geraes da vida da humanidade se por
ventura se lhe desluzirem da memoria os episodios das historias
particulares.
«Esta maneira de historia universal--diz elle[23]--é, a respeito da
historia de cada paiz e de cada povo, o que uma carta geral é para as
cartas particulares. Nas cartas particulares estudaes miudamente um
reino ou uma provincia em si mesmos; nas cartas universaes aprendeis a
situar todas as regiões do mundo conjunctamente; vêdes o que Paris ou a
ilha de França é para o reino, o que o reino é para a Europa, e o que a
Europa é para o universo.»
Realmente, este espectaculo offerecido por Bossuet ao Delphim era
assombroso, mas não se póde considerar como propriamente uma invenção do
prelado de Meaux. Por isso dissemos anteriormente que foi elle quem
primeiro _executou_ a idéa de uma Historia universal.
Bossuet, traçando o plano da sua obra, antepõe a tudo o mais a historia
do povo de Deus, _que foi o fundamento da religião_. Escreve, portanto,
sob o ponto de vista religioso, ou antes faz-se um echo da Igreja. A sua
obra é, para assim dizer, um desdobramento da Biblia, e toda a
originalidade que revela está, como observa Cousin, na execução. Vendo
caminhar o povo de Deus á face da terra, sempre guiado pelo milagre, que
faz, por exemplo, com que a vara de Moysés aparte as aguas do mar
Vermelho, Bossuet vê em todos os passos d'esse povo a mão de Deus, o
espirito do Senhor. O plano descoberto por Bossuet na mobilidade dos
acontecimentos humanos é traçado pela Providencia. «Mas lembrai-vos, meu
senhor--conclue o prelado de Meaux[24]--que esta longa cadêa das causas
particulares que fazem e desfazem os imperios, depende das ordens
secretas da divina Providencia.» Embora arrastado pelas convicções
profundamente religiosas do seu tempo e do seu espirito, e até pelo
dever da sua posição social, Bossuet tem um ponto de vista exclusivo,
unico, intransigente; mas em todo o caso imprime á Historia um caracter
philosophico, porque determina um mobil e um fim a todos os
acontecimentos humanos.
O exclusivismo de Bossuet é seguramente, pelo menos á luz da sciencia
moderna, o maior defeito da sua obra. Havendo elle comparado a Historia
universal a um mappa-mundi, onde se póde vêr o que Paris é para a
França, a França para a Europa, e a Europa para o universo, esquece-se
comtudo, perante o espectaculo da Providencia, embevecido em extasis
religiosos, de estudar as relações dos povos entre si para se elevar até
á humanidade. Elle preoccupa-se com o povo de Moysés como se esse povo
constituisse por si só a humanidade. Na historia dos imperios, a que
consagra a terceira parte da sua obra, procura systematicamente a
ligação, que reputa necessaria, com a historia do povo de Deus. Não só o
Oriente falta no grande livro de Bossuet,--pondera Cousin[25]--assim
como a historia das artes, da industria e da philosophia; mas tambem as
religiões e as instituições politicas dos differentes povos são algumas
vezes tratadas de modo um pouco superficial, se bem que de longe a
longe, e por exemplo na historia romana, haja relampagos de uma
sagacidade superior e paginas que lembram Machiavel e antecipam
Montesquieu.»
Lançada a primeira pedra no vasto edificio da Historia da humanidade,
uma de duas cousas havia fatalmente de acontecer: ou a obra de Bossuet
ficaria esquecida e, portanto, perdida, ou novos obreiros viriam
continuar a fabrica gigantesca. Felizmente, um homem verdadeiramente
superior, um «d'estes genios descobridores que alcançam as verdades na
sua maior generalisação»[26], appareceu em Italia, illuminando com os
relampagos do seu genio a grande obra da historia das idéas humanas,
porque, já o dissemos, a historia dos povos não é outra cousa, ou antes
creando elle proprio uma sciencia nova, _scienza nuova_, a _rainha das
sciencias_, «porque as sciencias devem começar onde a materia e o
objecto de que tratam principiam, e esta começará de feito com os
primeiros pensamentos dos primeiros homens, e não com as primeiras
reflexões dos philosophos sobre as idéas humanas[27].
É claro que nos referimos a João Baptista Vico.
O immortal philosopho napolitano, cujas obras despertam a mais
sympathica admiração e o mais profundo interesse, extrahe da _noite
profunda e tenebrosa que envolve a antiguidade_, uma affirmação
completamente nova e surprehendente: _O mundo civil foi certamente feito
pelos homens_ ou, n'uma phrase mais synthetica ainda, _a humanidade é
obra de si mesma_.
Remontando-se á origem do mundo das nações, ou mundo civil, João
Baptista Vico acceita a tradição biblica de que a terra fôra repovoada
pelos descendentes de Noé, os quaes, rompendo os laços de familia por
ligações passageiras e arbitrarias, se espalharam na _grande floresta da
terra_.
A infancia da humanidade é semelhante, segundo Vico, á infancia do
homem.
Os homens são mudos na sua origem. Vivem apenas porque o instincto os
leva a conservarem-se. Mas o primeiro trovão e o primeiro raio lançaram
no seio da humanidade nascente uma luz nova, a primeira noção da
divindade, como já mostramos no principio d'este trabalho.
A commoção que o primeiro phenomeno meteorologico produziu no homem,
desprende-lhe a lingua: póde, finalmente, pronunciar o primeiro
monosyllabo.
O desenvolvimento da palavra faz-se lentamente na humanidade como no
homem. A insufficiencia da linguagem é supprida por signaes, por gestos
ou pela grosseira representação dos objectos na casca das arvores,
origem dos hieroglyphos. Para facilitar a articulação das primeiras
palavras, os homens fallam cadenciadamente: é a origem dos cantos, dos
versos, da pantomima e da dança. Desenvolvidos os orgãos da voz, as
primeiras palavras são a copia dos sons da natureza. Depois as palavras
perdem a significação natural e tomam uma significação convencional; o
mesmo acontece na escriptura, a partir dos hieroglyphos.
O homem, assustado pelo trovão e pelo raio, escondeu-se nas cavernas da
terra, receando d'um poder superior a elle; e ahi occultou tambem a sua
companheira. D'esta juncção nasceu a familia, a que o homem teve de
procurar alimentos, tendo de sahir, para encontral-os, dos recessos das
cavernas. Do accordo dos deveres e das necessidades, a que esta primeira
sociedade deu origem, nasceu o direito natural.
Segundo a formosa theoria de Vico, vêmos, pois, como o homem é um
producto de si mesmo, e o mundo civil é feito pelo homem.
Na existencia de cada povo, Vico encontra a idade dos deuses, ou a época
em que a imaginação e o medo divinisam as forças da natureza; a idade
dos heroes, ou a época em que os homens, imaginando que tudo é obra dos
deuses, attribuem a si mesmos uma origem divina; finalmente, a idade
historica, em que o heroe se humanisa, e em que a natureza humana se
torna intelligente, modesta, dôce e razoavel, obedecendo por
consequencia á lei da consciencia, da razão e do dever, como diz o
proprio Vico[28].
Dentro do circulo fatal d'estas tres idades ou naturezas, é que a vida
dos povos se desenvolve e completa. Chegado ao grau de perfeição que
fica assignalado, cada povo extingue-se como uma flôr que attingiu o seu
maximo desenvolvimento. Outro povo, como outra flôr, o ha-de vir
substituir dentro do mesmo circulo fatal.
Toda a theoria de Vico se póde representar graphicamente por uma serie
de linhas parallelas, que a nosso vêr exprimem perfeitamente o seu
_corsi_ e _ricorsi_, o progresso e retrocesso dos povos. Segundo esta
theoria, os governos começam pela _unidade_ nas monarchias de familia;
pelo _menor numero_, nas aristocracias heroicas; pelo _maior numero_,
nas republicas populares, e acabam pela _unidade_, como principiaram,
nas monarchias civis. A successão d'estes periodos abrange a vida de
cada povo.
Assim, Vico, traçando, nos tempos da primeira barbarie, a longa linha de
_corsi_, encontra os paes de familia exercendo um governo, cuja
authoridade pretende derivar dos deuses. Esse é o periodo do mutismo; a
expressão do pensamento é gesticulada, hieroglyphica (_Monarchias de
familia_). Os homens errantes refugiam-se junto dos paes de familia, que
lhes não querem reconhecer direito algum. Os adventicios revoltam-se.
São vencidos pelos paes de familia. Revoltam-se de novo. Os paes de
familia procuram fortificar-se formando uma classe e regulando os
direitos das _gentes minores_, dos adventicios (_Aristocracias
heroicas_). Segue-se o periodo em que a continuação das revoltas por
parte das _gentes minores_ obtem concessões que produzem finalmente o
governo humano, isto é, do maior numero (_Republicas populares_). A
estas épocas de agitação succede naturalmente um periodo de repouso, a
monarchia. Mas cumpre notar que por isso que as monarchias e as
republicas populares são ambas uma expressão do _governo humano_, podem
succeder-se alternadamente.
Tracemos agora, segundo Vico, parallela á linha de _corsi_, a linha de
_ricorsi_ no periodo da segunda barbarie.
Voltam os tempos divinos. Os reis são os defensores da religião,
magestades sagradas. Revestem a dalmatica dos diaconos. A corôa é
encimada pela cruz. Fundação das ordens religiosas armadas. Os signaes
dos brazões correspondem á linguagem hieroglyphica.--Regressam os tempos
heroicos pelo feudalismo. Os barões são os heroes; os servos são as
_gentes minores_.--Finalmente, os esforços dos vassallos para
conquistarem a liberdade, em virtude da lei de que a potencia livre de
um estado deve passar ao acto, vencem os esforços dos _senhores_ e dão
origem ao governo do _maior numero_, isto é, aos governos democraticos
modernos.
Vico, encontrando o parallelismo dos _corsi_ e _ricorsi_ na linha
d'extensão, não o pôde comtudo achar na duração e intensidade dos
periodos, porque o da segunda barbarie foi muito menos longo e profundo
que o da primeira.
A theoria de Vico tem sido mais ou menos impugnada, sem que da
impugnação se possa deduzir menospreço pela elevada concepção do
philosopho napolitano, que evidentemente se baseia na divisão dos
tempos, feita pelos egypcios e pelos chinezes. Cantu acha que a theoria
da _Scienza nuova_ tem o inconveniente de sobrepôr a razão á liberdade;
de inutilisar todos os esforços tendentes a realisar um progresso
continuo; finalmente, que ella é desmentida pela constituição da
sociedade americana, que se organisou sem deuses, sem heroes e sem
feudatarios, á custa da industria e da concorrencia[29]. Cousin encontra
na theoria de Vico o vicio da preponderancia do elemento politico, da
omissão quasi completa da arte e da philosophia, e sobretudo do estudo
da civilisação oriental, dominada pela religião; finalmente, da omissão
relativa aos destinos da humanidade em geral na sua marcha de refluxo em
refluxo[30]. O snr. dr. Theophilo Braga acha que se ha erro n'aquella
divisão dos tempos consiste em fazer o computo de tal modo, que os
periodos subsequentes sejam excluidos dos primeiros[31].
Mas Cantu, como Cousin, faz justiça ao talento brilhantissimo de Vico,
cuja arrojada intuição, em pleno seculo XVIII, espanta realmente.
Comquanto Vico fique hoje muito atrazado em vista do estado actual da
sciencia, sobretudo pelo que toca aos modernos debates sobre a origem
das especies, distribuição geographica das raças humanas, pluralidade
dos mundos, suspeitada já por Giordano Bruno, e á questão da influencia
dos meios, não póde deixar de reconhecer-se que não só previu muitos dos
mais transcendentes problemas da sciencia moderna, taes como o da origem
da linguagem, cuja resolução antecipou, mas tambem que deixou na sua
obra os germens de muitas sciencias novas[32], e que foi o fecundador da
maior parte das theorias modernas, entre as quaes a Philosophia da
Historia.
A obra de Vico foi continuada por Montesquieu n'um plano igualmente
superior. Como Vico, Montesquieu occupa-se da relação do direito com os
costumes, mas introduz na sciencia da Historia um elemento novo, que
todavia já Hippocrates, Platão, Aristoteles e outros sabios da
antiguidade haviam suspeitado: a influencia dos climas no caracter e
vida dos povos. Bossuet havia introduzido na Historia universal o
elemento religioso: Vico, o elemento racional; Montesquieu introduziu o
elemento climatologico.
O auctor do _Espirito das Leis_, fanatico pela sua doutrina, exagera os
effeitos do clima, comquanto devesse attender a totalidade dos meios
cosmologicos como Herder, mas o que é certo, e a sciencia moderna o tem
demonstrado, é que o homem, e mais adeante nos demoraremos n'este ponto,
quando tratarmos de Herder, nasce e vive sob a influencia da natureza
que o rodeia. O clima produz as sensações habituaes, que, no decurso dos
tempos, constituem a sensibilidade definitiva[33]. Nas obras d'arte, e
de litteratura, que são as que mais profundamente caracterisam a
civilisação de um povo, como mais de espaço veremos, importa considerar,
segundo Taine[34], tres forças primordiaes, a raça, o _meio_, e o
momento. Estabelecida a verdade da influencia climatologica no _homo
duplex_, Emilio Deschanel[35] procura no estylo de cada escriptor a
caracteristica do temperamento, do _clima_, dos habitos, etc. Pelletan,
considerando o sólo como um collaborador forçado do destino d'uma raça,
reconhece a necessidade de se escrever a _geographia do progresso_[36].
Não se póde levar tão longe, porém, a fatalidade exclusiva do clima, sob
o ponto de vista da temperatura, que haja de se fechar os olhos a
contradicções flagrantes, a que os proprios factos historicos dão
relevo, embora Montesquieu veja ainda no fundo d'essas contradicções a
influencia climaterica. Assente que os climas frios são os que dão o
vigor, a energia, e os climas quentes a molleza e a indolencia, o
proprio Montesquieu[37] foi obrigado a notar contradicções nos
caracteres de certos povos do Meio-dia. «Os indios são naturalmente
faltos de coragem, diz elle; os proprios filhos dos europeus, nascidos
nas Indias, perdem a do seu clima.» Esta ultima affirmação acha-se
plenamente confirmada no precioso livro de um viajante hollandez[38], o
qual, tratando da maneira de viver dos portuguezes na India, faz notar a
ociosidade a que se entregavam, a ponto de explorarem a honra de suas
proprias mulheres[39]. Pois não obstante a indolencia peculiar ao clima
da India, onde a luz e o calor parece conservarem-se n'uma primavera
ininterrompida, os costumes indianos são violentos e barbaros: os homens
submettem-se a males incriveis, as mulheres lançam-se ao fogo.
Montesquieu explica ainda este facto pela preguiça do espirito dos
indios, a qual é devida á indolencia do corpo, produzida pelo clima. A
preguiça do espirito traz, realmente, a immobilidade nas leis e nos
costumes; sem embargo, como observa Voltaire, a influencia dos climas é
algumas vezes desmentida pelos factos historicos: em resposta á asserção
de que os povos dos paizes quentes são timidos como os velhos, lembra
Voltaire que os arabes conquistaram em oitenta annos maior territorio do
que aquelle que o imperio romano possuia.
Um philosopho allemão, que Edgar Quinet vulgarisou na Europa, levanta
sobre a theoria de Montesquieu um edificio tão brilhante como arrojado;
segundo Montesquieu, o homem é influenciado pelo clima; segundo Herder,
a natureza é o molde d'onde a humanidade sahe conformada. Herder, cuja
largueza de vistas abrange todos os elementos da humanidade, estudados
desde a origem dos tempos, no seu desenvolvimento harmonico e
progressivo, o que lhe dá uma incontestavel vantagem sobre os
philosophos que o precederam, parte da geographia physica para chegar a
uma synthese assombrosa. «É com um admiravel instincto--diz Quinet--que
Herder segue o contorno dos rochedos e dos rios, que se perde nos
desertos, que penetra com um olhar o interior de um paiz, para encontrar
na natureza externa o primeiro mobil das tendencias e determinações dos
povos[40].» A theoria de Herder é muito mais complexa do que a de
Montesquieu, e é claro que, lançando mão de todos os elementos
offerecidos pela natureza, abrange maior numero de verdades. Herder,
como observa Quinet, estuda até os contornos dos rochedos e dos rios, as
linhas da natureza; os perfis das montanhas e as sinuosidades do alveo
dão-lhe a idéa das tendencias dos povos que vivem n'essas paragens. Com
effeito, o scenario de um theatro fornece a primeira concepção das
paixões que se irão desenvolver no drama. No grande palco do mundo
acontece o mesmo. O aspecto da natureza torna o germano dotado de uma
tempera robusta[41]. Em Portugal, os povos nascidos nas duas montanhosas
provincias da Beira sahem aptos para as maiores rudezas do trabalho; são
principalmente elles os que executam a tarefa das ceifas no Alemtejo,
onde vão todos os annos, arrostando um sol canicular, abrazador,
chegando a morrer n'um só estio e n'uma só comarca, a de Elvas,
quatrocentos ceifeiros, de fouce em punho, como verdadeiros heroes do
trabalho[42]. Os povos do Algarve nascem marinheiros pela fatalidade da
situação geographica, arrojam-se ás maiores ousadias da navegação, como
a que no principio d'este seculo realisaram, indo dous homens n'um
cahique ao Rio de Janeiro. Herder tinha razão. Um só rio, o sinuoso e
extenso Douro, basta a caracterisar a vida da maior parte dos habitantes
d'uma provincia. O conhecimento pratico, a observação de algumas
povoações portuguezas leva-nos a estabelecer o principio de que a fórma
geometrica dos rios determina os costumes dos povos circumpostos. As
correntes em linha recta são as que produzem menor pureza de vida; pelo
contrario, os rios meandrosos, difficeis, occasionando um trabalho
continuo e perigoso santificam, para assim dizer, os costumes. Estudemos
esta theoria no rio Douro. Os barqueiros d'este rio entregam-se a um
trabalho por tal modo intenso e ininterrompido, que chega a ser uma
religião. Pendurados das fragas afim de tirarem os barcos á sirga,
empenhados em vencerem os perigos dos _pontos_, verdadeiras cataratas,
havendo previamente, de barrete na mão, confiado as suas vidas a Deus,
são completamente absorvidos pela preoccupação do trabalho. Extenuados,
quando recolhem ao lar domestico, dedicam-se á vida de familia, ao
descanço patriarchal da lareira; regulando ainda assim o tempo por modo
que muitos d'elles cultivam a sua vinha, a sua pequena horta, no
intervallo das viagens. Mas nos rios placidos, rectilineos, a navegação
não é um trabalho, é, pelo contrario, um pretexto de ociosidade. A
propria corrente leva o barco, os barqueiros não bebem para
fortalecer-se; bebem para embriagar-se, por _deboche_. Quando chega a
noite, procuram as casas devassas, as rameiras do caes.
Herder, desenvolvendo a theoria de Vico, abrangeu todos os meios
cosmologicos; não se preoccupou só, como Montesquieu, com os agentes
astronomicos, e deu a devida importancia á acção geral da natureza. No
estado actual da sciencia é preciso tambem ter em vista os modificadores
sociologicos, posto que muitas vezes nos pareçam sujeitos aos
cosmologicos. As profissões industriaes, por exemplo, não raro dependem
de uma influencia puramente local. Jacques de Boisjoslin confirma esta
opinião, avisando de que as aptidões profissionaes podem enganar sobre
as verdadeiras disposições das raças, por isso que frequentemente
derivam do clima, da pressão da natureza[43].
Edgar Quinet lança-se com vivo enthusiasmo na theoria de Herder: «A
figura dos continentes, dos rios, dos mares, das montanhas,--escreve
elle com o seu bello colorido poetico--, quasi por toda a parte ha
determinado a das sociedades; de modo que cada continente é um molde
onde a Providencia vasa as raças humanas para que ahi tomem a fórma
eterna dos seus designios; e o primeiro propheta escreveu o seu livro
nas linhas mudas dos continentes ainda deshabitados[44].»
Cousin, depois de haver prescripto ao movimento geral da Historia tres
épocas, ligadas não só por uma relação de successão mas tambem de
geração, tres épocas baseadas sobre as tres unicas idéas que o
pensamento humano póde conceber, o _infinito_, o _finito_, a _relação do
finito com o infinito_, sendo que estes tres elementos podem coexistir
n'uma mesma época posto que seja o predominio de um o que a caracterisa;
Cousin liga tambem uma alta importancia á situação geographica e chega á
conclusão de que para _tres épocas differentes, tres theatros
differentes_.
A theoria de Herder tem sido, porém, accusada por alguns philosophos de
imprimir ao homem um caracter de passividade, que o reduz á condição de
escravo da natureza que o rodeia, e elle proprio, como lhe é censurado,
não póde explicar pela geographia physica todos os desenvolvimentos da
civilisação. Para elle, a linguagem humana é uma instituição divina,
posto que até certo ponto nos pareça que, reproduzindo os primeiros
homens as vozes da natureza pela onomatopea, segundo Vico, podia Herder
explicar por esse mesmo facto a origem da linguagem, e pela situação
geographica a euphonia ou a aspereza de certos dialectos.
Uma outra accusação consiste em não se haver Herder remontado á origem
ethnica das raças, encarando-as apenas no estado em que as encontrou,
quando estudou o caracter de cada uma como elemento da Philosophia da
historia; pelo que calumniou toda a raça aryana, e portanto os germanos,
a que pertencia, quando representou como rebeldes a toda a cultura os
celtas e os slavos, que foram a guarda-avançada da colonisação
europêa[45].
Como quer que seja, Herder accendeu a esplendida aurora que devia
illuminar, principalmente em nossos dias, o estudo de todos os grandes
problemas da sciencia e da humanidade, a que, depois d'elle, se tem
dedicado grande numero de espiritos luminosos e fortes, cujas theorias
não podemos mencionar n'um trabalho que, como este, tem de ser realisado
n'um periodo fatal e curto.
O ponto de vista religioso de Bossuet e o ponto de vista politico de
Vico ficaram desde Herder offuscados pelo conjuncto synthetico de todos
os elementos da civilisação humana: as raças, as linguas, as religiões,
as artes, as litteraturas, os systemas de governo e de philosophia, etc.
Duchinski achou vinte e oito elementos de critica historica: 1.
Hydrographia; 2. Plasticidade do sólo; 3. Physionomia dos habitantes; 4.
Hygiene, doenças; 5. Climatologia; 6. Mythos; 7. Tradições peculiares a
cada raça; 8. Faculdades musicaes e poeticas; 9. Tendencia dos povos á
vida sedentaria agricola ou a vida nómada mercantil; 10. Lugar da mulher
na sociedade; 11. Faculdades religiosas, desenvolvimento das seitas; 12.
Vestuario; 13. Alimentos, e bebidas; 14. Desenvolvimento da vida
provincial e das idéas federativas; 15. Maior ou menor predisposição
para a adoração do principio do mal; 16. A geologia e sobretudo a
geologia agricola; 17. A botanica; 18. A zoologia; 19. As linguas sob o
ponto de vista lexicographico; 20. As linguas sob o ponto de vista
euphonico; 21. As linguas sob o ponto de vista dos caracteres da
civilisação; 22. As linguas sob o ponto de vista das tradições
historicas que apresentam; 23. Pureza e impureza relativa dos costumes;
24. Grau do poder creador do espirito; 25. Grau de parentesco entre os
povos sob o ponto de vista das relações historico-politicas; 26.
Estatistica; 27. Encadeamento dos factos historicos. 28. Grau de
parentesco com relação ás origens. E certamente não se poderia Duchinski
gabar de ter enumerado todos os materiaes que sabe aproveitar a
Philosophia da Historia, em cujo campo o menor elemento fornece uma
caracteristica, o que não deve admirar depois que se conheceu que uma
alga microscopica, a _Trichodesmium erythræum_, produz certa coloração
particular do mar Vermelho.
Afim de estudar todos estes elementos, para chegar á synthese da
humanidade, era preciso desenvolver, refundir e até crear um grande
numero de sciencias correlativas a elles. É o que se tem feito até hoje.
Cada sciencia especial acode a offerecer ao investigador uma poderosa
alavanca que ha-de ajudar a levantar a humanidade á altura precisa para
receber de frente toda a luz da Philosophia. A Historia, que fôra
outr'ora simplesmente a narração de factos, tornou-se, portanto, a mais
complexa de todas as sciencias. Foi uma transformação assombrosa.
Atearam-se os grandes debates da sciencia moderna, os sabios lançaram-se
á descoberta da verdade, tomando a Philosophia por instrumento. O nosso
seculo tem assistido as mais brilhantes investigações. A Philosophia
positiva metteu hombros ao colosso do passado, e iniciou um dos cyclos
mais admiraveis da humanidade, se não o mais assombroso de todos elles.
Parece-nos conveniente insistir n'este ponto, por isso que lavra ainda
em alguns espiritos uma certa desconfiança sobre o estado de perfeição
dos modernos trabalhos scientificos. O conhecimento d'esta desconfiança
foi que nos determinou a escolhermos para dissertação de concurso o
vasto assumpto de que vimos tratando, seguramente muito superior ás
nossas forças.
Odysse-Barot é um d'esses espiritos desconfiados. «Vemos apparecer cada
anno, diz elle[46] numerosas e interessantes monographias, obras
especiaes de um incontestavel valor; mas não passam de uteis materiaes,
que seria tempo de pôr em obra. A Historia está no ponto em que se
achavam: a astronomia antes de Keppler, Copernico e Newton; a chimica
antes de Lavoisier e Berzelius; a physica antes de Archimedes; a
zoologia antes de Geoffroy Saint-Hilaire; a geologia antes de Cuvier; a
physiologia antes de Harvey. A lei da attracção universal será mais
difficil de formular do que a lei da attracção celeste? Sabemos como se
movem os astros, e ignoramos como se movem os povos! Podemos determinar
a curva que descrevem os mundos, e não sabemos absolutamente nada da
orbita que percorrem as nações! Porque não descobrirão a lei da
aggregação dos homens, como souberam achar a lei da aggregação das
moleculas de um corpo? Não haverá uma chimica social do mesmo modo que
ha uma chimica organica ou uma chimica mineral? Será que as forças
chamadas cohesão e affinidade não possam actuar senão sobre os gazes, os
liquidos ou os solidos? Acaso a humanidade ignora o que é uma
combinação, uma liga? Não tem seus reagentes, suas decomposições, seus
precipitados? Descobriu-se a lei da circulação do sangue no homem: a
historia espera o seu Harvey, para encontrar a lei da circulação do
sangue nas sociedades. A historia espera o seu Archimedes, que nos dê a
formula da dynamica e da statica politicas, etc.»
Realmente, isto é querer desconhecer até onde teem chegado os progressos
da actividade humana dentro do campo da possibilidade, e exigir da
humanidade o impossivel.
Com a sabia orientação da Philosophia positiva, o espirito humano
caminha energicamente para as acquisições scientificas que as mais
pacientes observações preparam todos os dias. Foi trabalhosa e demorada
a jornada até esta conquista, porque o espirito humano teve de
atravessar successivamente o estado theologico, base e estimulo de todo
o progresso, porque é preciso um ponto de apoio qualquer para firmar os
primeiros passos, e o estado metaphysico, transição do estado theologico
para o estado positivo.
Mas, chegados a esta nova conquista, o que podemos exigir da Philosophia
positiva, sciencia que elevou a Historia á sua mais alta concepção? Que
nos permitta encarar todos os phenomenos como sujeitos a leis naturaes
invariaveis, e reduzil-as ao menor numero possivel, afim de
simplificarmos a universalidade dos conhecimentos humanos; que nos
permitta sujeitar a um systema claro e positivo todas as sciencias
fundamentaes estudadas nas suas relações communs como elementos
constitutivos de um todo harmonico, e portanto tambem nas suas relações
com esse mesmo systema, com esse todo. Esta grande, esta immensa obra de
simplificação deve-se á Philosophia positiva. Mas para que a Philosophia
positiva podesse constituir-se com o caracter de universalidade que lhe
é proprio, era preciso abraçar todas as ordens de phenomenos. Por isso a
Philosophia positiva teve de inventar uma nova sciencia, que se
propozesse estudar uma especie de phenomenos, que não podia incluir-se
na dos astronomicos, na dos physicos, na dos chimicos, nem finalmente na
dos physiologicos, e creou a _physica social_, que se trata de estudar
com o vagar que a sua dependencia de todas as outras sciencias de
observação exige, e que virá completar a constituição da Philosophia
positiva.
Mas todos estes grandes, estes grandissimos progressos do espirito
humano, toda esta colossal obra de simplificação e generalisação poderá
produzir o conhecimento exacto, certo das causas das leis estudadas ou
da explicação universal de todos os phenomenos por uma lei unica?
Responde o proprio Comte, o grande apostolo do positivismo: «Na minha
profunda convicção pessoal, considero estas empresas d'explicação
universal de todos os phenomenos por uma lei unica como eminentemente
chimericas, ainda quando são tentadas pelas mais competentes
intelligencias. Creio que os meios do espirito humano são muito fracos,
e o universo muito complicado para que uma tal perfeição scientifica
possa estar ao nosso alcance, e até penso que se faz geralmente uma idéa
muito exagerada das vantagens que de tal conquista resultariam
necessariamente, se ella fosse possivel[47].» É o proprio Augusto Comte
que nos vem dizer que considera defezos á razão humana todos os
mysterios que a philosophia theologica procurava explicar facilmente;
que o espirito humano deve reconhecer, no estado positivo em que se
acha, a impossibilidade de obter noções absolutas, de conhecer as causas
intimas dos phenomenos, a origem e o destino do universo[48].
Estamos, pois, lançados na ampla estrada de uma sciencia toda humana, e
havemos de chegar até onde os recursos humanos nos possam levar. É
preciso tempo e trabalho para que a folha da amoreira se converta em
sêda. A astronomia esperou o seu Keppler, como a historia espera o seu
Archimedes. Odysse-Barot pede a formula da dynamica e da statica
politicas: portanto, o que pede são duas theorias scientificas, que se
devem considerar como factos logicos. Ora só por uma profunda observação
d'esses factos se póde chegar ao conhecimento das leis logicas[49]. A
Philosophia positiva, auxiliada pelas sciencias de observação já
perfeitamente conhecidas, procura preencher a lacuna que respeita aos
phenomenos sociaes para attingir o seu caracter de universalidade.
Segundo esta nova marcha do espirito humano, toda positiva e
observadora, a Historia teve de estudar profundamente a natureza para
chegar, finalmente, á exacta concepção do lugar que n'ella occupa o
homem. A geologia tem, portanto, attingido um notavel estado de
florecimento. A historia da terra desdobrou-se em capitulos com uma
nitidez admiravel, desde a nebulose, que pelo resfriamento se converteu
na esphera terrestre, até nossos dias. Excavando nas entranhas da terra,
para extrahir, como um minerio precioso, a sua historia, a sciencia
encontrou os destroços animaes e vegetaes que geraram a paleontologia.
Nas camadas terciarias do globo appareceram os instrumentos de pedra, a
que o vulgo chama ainda hoje _pedras de raio_[50], e que effectivamente
foram considerados como productos da natureza antes que Mercati os
considerasse como armas defensivas do homem no estado da sua rudeza
primitiva. O achado de alguns fosseis, que pareceram humanos, a par com
os esqueletos de alimarias ante-diluvianas, veio depois, ao cabo de
longos debates, e de novos achados, desfazer o erro anthropocentrico,
confirmar a existencia prehistorica do homem e por conseguinte o emprego
dos instrumentos de silex. Foi assim que do consorcio da geologia com a
paleontologia nasceu a archeologia. Então, á luz do grande facho da
archeologia, pôde a Historia reconstruir as idades primitivas do homem.
Chamou á primeira, _de pedra_, e subdividiu-a em _paleolithica_ ou dos
instrumentos de pedra lascada; _mesolithica_ ou dos instrumentos de
pedra lascada e de osso; _neolithica_ ou dos instrumentos de pedra
polida; e á segunda, idade dos _metaes_, subdividindo-a em idade de
bronze[51] e idade de ferro. A descoberta de fosseis humanos, e dos
instrumentos prehistoricos, veio dar desenvolvimento a um grupo de
sciencias que teem necessaria relação entre si.
No primeiro plano d'este grupo, apparece a anthropologia, ramo da
historia natural que trata do homem e das raças humanas, sciencia que se
póde considerar originada pelo positivismo moderno, comquanto os gregos
já designassem pelo vocabulo _anthropologos_ aquelles que discutiam
sobre o homem. O problema da origem do homem impoz-se á meditação dos
sabios, como uma das mais importantes questões a resolver. Apartaram-se
as opiniões, os campos. A primeira base de toda a discussão foi o
Genesis. A opinião polygenista tirava argumento de serem os filhos de
Deus representados como raças provenientes de Adão, e os filhos dos
homens como raças não adamicas[52] e de que a Biblia apenas se referia
aos povos semitas, particularmente aos judeus[53]. A opinião monogenista
contrapunha que todas as raças descendiam primitivamente de Adão e Eva,
e consecutivamente dos tres filhos de Noé salvos do diluvio; que a
influencia dos meios cosmicos produzira a variedade das raças. Esta
discussão veio a generalisar-se, a emancipar-se da sua origem biblica, a
diffundir-se pelo campo da sciencia, e até da politica[54].
O _transformismo_ é uma phase nova d'esta grande questão, que envolve
uma idéa antiga[55]. Lamarck sustenta que as especies se transformam
passando de uma para outra, tanto no reino animal como no vegetal: o
homem é uma transformação lenta do macaco. Procurando a origem dos
sêres, Lamarck encontra os germens primordiaes ou mónadas, provenientes
de geração espontanea. N'este systema, os meios de transformação
explicam-se pela adaptação dos orgãos ás condições da existencia.
Cuvier, Geoffroy Saint-Hilaire e outros, sahiram em defeza das idéas
orthodoxas, que parecia haverem triumphado quando appareceu Carlos
Darwin, cuja theoria se póde definir: _A selecção natural por a lucta
pela existencia, applicada ao transformismo de Lamarck_[56]. Segundo
Darwin, todos os seres organisados se transformam incessantemente sob o
imperio de uma lei de selecção natural (_natural selection_), e todas
estas transformações têem por causa a lucta pela vida (_struggle for
life_), isto é, o combate eterno dos sêres vivos entre si pelos meios de
existencia. Todas as especies vivas descendem, segundo Darwin, de um
pequeno numero de prototypos ou mesmo de um só. Em virtude da selecção
natural todas as variações uteis são conservadas, e todos os desvios
nocivos eliminados[57]. Comquanto Carlos Darwin se abstivesse de
applicar a sua theoria á especie humana particularmente, os que a
defendem fazem essa applicação como consequencia logica das asserções
apresentadas por elle. A doutrina darwiniana foi o ponto de partida de
um longo debate que ainda dura. Entre os allemães que se filiaram na
escóla do transformismo, avulta Hæckel, que para explicar a origem do
homem parte das primeiras cellulas conhecidas, _moneras_, formadas por
geração espontanea. Estas cellulas foram-se dispondo em orgãos e, depois
de uma serie de transformações, que se podem classificar em vinte e dous
graus, apparece o homem.
Graças ao espirito de positivismo do nosso seculo, as sciencias
biologicas chegaram a este grau de desenvolvimento, e como que sopraram
vida nova á intelligencia humana cada vez mais ávida de saber.
Desdobram-se na tela da discussão os mais graves problemas, como por
exemplo o das gerações espontaneas, que tanto preoccupou a Academia das
Sciencias de Paris, depois que em 1858 o professor Pouchet lançou o pomo
da discordia ao seio dos quarenta immortaes[58]. Certo é que muitos
d'esses grandes problemas não estão ainda resolvidos, como por exemplo o
do transformismo, mas não é menos certo que as modernas investigações
vão cada vez produzindo novas acquisições, e que, pelo que toca ao
transformismo, a doutrina da mutabilidade e da evolução morphologica dos
seres organisados vai cada dia ganhando maior terreno.
N'um curso regular de anthropologia, como aquelle que se professa no
Instituto anthropologico de Paris, sob a direcção de Paulo Broca, a
ethnologia, sciencia que se occupa da classificação, descripção,
repartição, filiação e evolução das raças humanas, tem um logar
importantissimo, e tanto se identifica esta nova sciencia com a Historia
philosophica, que só pelo estudo das raças constituiram alguns
historiadores uma Philosophia da Historia.
As analogias encontradas entre as linguas da Europa e o sanscrito
determinaram as affirmações a que se chegou sobre a unidade da raça
indo-européa ou aryana. Os resultados fornecidos pela investigação
levaram Francisco Boop a reconhecer o parentesco das linguas celticas,
que até ahi faziam grupo á parte, com o sanscrito, e com as demais de
origem aryana. Por onde nos é dado vêr como a ethnologia prosperou pela
applicação do methodo philologico. Aqui temos pois irmanadas duas novas
sciencias, por igual importantes, a ethnologia e a philologia. E não
diremos que a philologia é a base da ethnologia, porque muitas vezes a
linguagem de um povo está falseada por agentes historicos e sociaes,
taes como a conquista, o commercio, e a irradiação de focos
intellectuaes mais ardentes[59]. Mas, como quer que seja, acompanhar a
evolução das raças desde a sua filiação o mesmo importa que fazer
simultaneamente a historia das linguas respectivas e o estudo critico
das litteraturas sob o ponto de vista da archeologia, da arte e da
mythologia[60]. Os grandes problemas philologicos apenas começaram a
inspirar geral interesse no principio d'este seculo. O ponto de partida
dos modernos trabalhos sobre a sciencia da linguagem foi a _Grammatica
comparada das linguas indo-europêas_ por Francisco Boop. A antiguidade
classica, circumscripta ao estudo da civilisação italiana ou grega, não
podia elevar-se ás theorias geraes[61]. Além do que, era preciso que a
Historia fosse estudando a genealogia dos povos, reconhecendo-os, para
sobre o conhecimento pratico das linguas fundamentar a moderna sciencia
da linguagem[62]. No seculo actual a philologia começou a estudar as
ramificações das linguas, a comparal-as, a classifical-as, a criticar os
seus productos, como a Historia começou simultaneamente a estudar as
ramificações dos povos, a comparal-os, a classifical-os, a criticar as
suas manifestações. A linguistica, estudando a phonetica e a estructura
das linguas, veio prestar uma valiosa collaboração á philologia, porque
se o philologo não sabe nada da lingua em si mesma, diz Hovelacque, se
ignora a sua estructura e os elementos que a compoem, como poderá fazer
um juizo completo sobre os productos, os fructos d'esse agente, d'essa
lingua[63]? A Philosophia positiva, pela applicação dos seus processos
de simplificação e de generalisação, tratou de procurar as leis que
presidiram á formação das linguas, e assim é que a sciencia da linguagem
tem chegado á descoberta de factos importantissimos. Averiguou-se, por
exemplo, que a lingua chineza, a qual comprehende quarenta mil palavras,
apenas possue um peculio de quatrocentas e cincoenta raizes.
Lubbock[64] occupa-se em mostrar a identidade de raizes na linguagem de
muitas raças, e toma para exemplo as articulações _pa_ e _ma_, que para
a maioria dos povos significam _pai_ e _mãe_, por isso mesmo que são as
primeiras syllabas pronunciadas pela criança, as mais faceis, as mais
involuntarias, como observa Lefèvre[65]. Mas, aqui se levanta uma
importante questão. Como foram escolhidas estas raizes? Como é que
certas cousas foram indicadas por certos sons? Max Müller chama a esses
primitivos elementos das differentes famillias de linguas _typos
phoneticos_ produzidos por um poder inherente á natureza humana. E
acrescenta: «Existem, como diria Platão, por natureza; ainda que devemos
tambem declarar com Platão que quando dizemos por natureza, queremos
dizer pela mão de Deus.» Ha, porém, algumas palavras que, como _zas_,
provém da imitação de um som. Segundo Müller, as palavras d'esta especie
parecem-se com as flôres artificiaes: não têem raizes.
Lubbock não fica satisfeito com a resposta dada por Müller a esta
pergunta «Como é que os sons podem exprimir o pensamento»? posto
adjective de eloquente a resposta. Lefèvre qualifica-a de excesso de
mysticismo anglicano por parte de Müller, e observa que «o grito vago,
fixado, precisado pelo habito, por convenção, por analogia com certas
impressões traduzidas em onomatopêas nos basta para comprehender como a
tal ordem de sensações ou de movimentos cerebraes se pôde ligar tal ou
tal som.» D'este modo não haveria na linguagem as flôres artificiaes de
que falla Müller, e, como pensamos, todas essas syllabas-mães
mergulhariam raizes na interjeição ou na onomatopêa, acabando de
fixal-as o habito.
A moderna applicação da Historia a todos os ramos dos conhecimentos
humanos produziu, na sciencia da linguagem, um estudo encantador--a
biographia de cada palavra, muitas vezes em opposição com as regras
phoneticas que determinam as mudanças possiveis das letras. O verdadeiro
caracter de universalidade da Historia provém certamente não do facto de
abranger a generalidade dos povos, mas sim a generalidade dos assumptos,
e é por isso que ella envolve, na sua immensa esphera, todas as
sciencias. Tudo tem uma historia, e o historiador universal tem de
abranger a historia de tudo.
Max Müller[66] faz, a traços poeticos, a biographia da palavra
_palacio_. Sobre as margens do Tibre, uma das sete collinas era chamada
_collis Palatinus_. Palatinus derivava-se de Palas, divindade pastoral,
cuja festa se celebrava a 21 de abril. Nero mandou demolir todas as
casas particulares d'esta collina para ahi edificar o seu aureo palacio,
_domus aurea_, a que se principiou a dar o nome de _Palatium_,
conservando-se como typo dos palacios reaes da Europa. De _palatium_
nasceu o adjectivo _palatino_, a que se juntou a palavra _abobada_ para
significar o ponto mais elevado da bocca, porque _abobada_ era
realmente, como observa Müller, uma palavra muito propria para designar
o palacio da bocca. O illustre professor d'Oxford, lembrando a phrase de
Ennius--_palatum coeli_--, para exprimir a abobada dos céos, faz sentir
a evidente analogia que ha entre a concepção do palacio da bocca e a de
uma abobada, e entre a concepção de uma abobada e a sumptuosa habitação
dos imperadores.
Tomando por instrumento de investigação a philologia, a Historia não
abriu os vocabularios das differentes raças para estudar sómente a
biographia das palavras, mas quiz tambem deletrear n'elles a condição
social, a civilisação d'essas raças.
A critica philologica descobriu que os Hos da India central não conhecem
os termos affectuosos; que os Algonquinos, povo da America
septentrional, não possuem o verbo _amar_; que os Bosmejans não teem
nomes proprios para distinguir os individuos; que as tribus brazilicas
desconhecem as noções de _côr_, _genero_, _espirito_, etc., por isso que
não apparecem nos seus vocabularios palavras correspondentes a estas
noções[67].
Se os vocabularios foram considerados testimunhos importantes para a
historia da civilisação dos povos, as litteraturas, os monumentos
litterarios principiaram a reputar-se, perante a critica moderna, a
photographia do estado do espirito d'esses povos, e dos seus costumes. É
por isso que Henri Taine[68] disse: «A historia transformou-se ha cem
annos na Allemanha e ha sessenta em França, pelo estudo das
litteraturas.» A litteratura copia o povo, como o livro copia o homem.
Os monumentos litterarios são a concretisação da alma das nações: tudo o
que ella sentia no _momento_ em que produziu, influenciada pela força do
meio physico, clima, e pelas disposições hereditarias, _raça_, está alli
condensado. Uma epopéa é um composto determinado pela acção simultanea
d'estas tres forças primordiaes reconhecidas por Taine.
Interrogado o _Mahabharata_, reproduz a nossos olhos o cyclo tempestuoso
das conquistas dos aryas, quando, avançando para o sul, se propozeram
assenhorear as regiões do Ganges. O _Ramayana_ é tambem um symbolo sob a
fórma de uma epopéa. A serenidade e abundancia que succedem aos
trabalhos de Rama, para rehaver o throno e a esposa, representam a
conquista pacifica do Meio-dia da India depois da conquista guerreira. É
o poema da _posse_, como o _Mahabharata_ é o poema da lucta. Ambos elles
respondem eloquentemente ás interrogações da Historia, ambos elles
caracterisam a alma da raça arya ao tempo em que rolava do alto do
Thibet para, como uma onda enorme, alagar talvez o mundo[69]. Eis-aqui
porque já haviamos dito que as obras de arte e de litteratura são as que
mais profundamente caracterisam a civilisação de um povo.
Nos tempos modernos, a Historia, depois do rumo que lhe imprimiu Vico,
pôde extrahir grandes recursos do estudo dos symbolos; quando ella
chegou a lêr esses alphabetos mudos, permitta-se-nos a expressão, dos
povos primitivos, descobriu segredos importantissimos. Na poesia do
_Ramayana_ conseguiu reconhecer em Rama e em Sita uma dupla
personificação da agricultura, da força que move o arado e do sulco que
esse movimento produz na terra[70], o que plenamente confirma a exegese
em que o _Ramayana_ é o poema da conquista do sul da peninsula
indostanica pelo trabalho sereno, pela paz. O symbolismo juridico,
interrogado pela Historia, produziu a _poesia do direito_, concepção
encantadora que em Portugal só tem originado, até hoje, um unico
livro[71]. Assim é que a symbolica vai encontrar na _stipulacão_ a
_palha_ (_stipula_), que intervinha nos contractos[72] e que até algumas
vezes se cosia aos documentos[73]; na prova pelo _fogo_ o symbolo da
pureza, porque, segundo os antigos, o fogo, sendo o grande purificador,
«não podia conjurar contra o innocente[74].»
Em Portugal, as mulheres accusadas de adulterio _purgavam-se a ferro
caldo_. O ferro, aquecido pelo fogo, accusava o crime ou a innocencia: o
fogo, diz o _Ramayana_, vê tudo o que ha de manifesto e tudo o que ha de
occulto. Bastaria só este facto para demonstrar que o symbolismo tanto
abrangia a religião como o direito. Por um lado o fogo tinha um caracter
divino, encarnava-se em Vesta, a que os gregos chamavam Estia, _fogo
domestico_[75]; por outro lado revestia um caracter juridico, porque
pela prova do fogo ficava a mulher legalmente rehabilitada. De modo que
no _ferro caldo_ não só se póde distinguir o elemento religioso e o
elemento juridico, mas tambem a relação existente entre os dous
elementos: sendo o adulterio um crime que principalmente affecta a vida
de familia, a superstição continuou a fazel-o julgar pelo fogo, que na
mythologia grega tinha um caracter divino de domesticidade.
Antigamente, o historiador fugia dos symbolos pela mesma razão que os
caminhantes fugiam da Sphynge: por não poder adivinhar o que elles
diziam. Mas depois de Vico, o primeiro philosopho da Historia, as
allegorias tornaram-se claras, luminosas. Desde esse momento tanto se
dilatou a esphera da Historia, que um só individuo passou a representar
uma generalisação: Achilles o _valor commum a todos os homens fortes_,
Ulysses a _prudencia commum a todos os sabios_[76]. Esta generalisação
illustrou ao mesmo passo o passado e o futuro: o passado, porque
interpretou a antiguidade; o futuro, porque produziu a etymologia das
linguagens poeticas.
Pelo auxilio que a archeologia e o estudo das litteraturas vieram
prestar á Historia, chegou-se á concepção da ethnographia, sciencia que
dá o conhecimento dos usos, costumes, aptidões e religiões dos povos, e
cuja denominação foi fixada em 1826 por Balbi[77]. Esta nova sciencia
veio, pois, completar o estudo do grupo humano sob o ponto de vista
zoologico (anthropologia) e sob o ponto de vista historico e geographico
(ethnologia). Como se fossem tres grandes linhas, as tres sciencias
cruzaram-se em triangulo: dentro d'elle ficou o homem. O _homo sapiens_
de Linneu mais propriamente se poderia denominar desde então _homo
triplex_.
Toda a importancia da ethnographia não está, como por muito tempo se
julgou, no interesse maior ou menor que póde despertar á imaginação o
conhecimento da estranha maneira de viver dos povos. A sciencia moderna
deu ás narrativas dos _touristes_ um valor até agora desconhecido,
e foi d'este modo que a ethnographia revestiu um caracter altamente
scientifico. Sob este ponto de vista, presta um grande auxilio a
interpretação dos phenomenos sociaes, á sciencia da sociedade ou
_sociologia_, como lhe chamou Augusto Comte. Herbert Spencer
encontrou grandes subsidios na historia das superstições, quando
reconheceu que ellas pertenciam ao numero de certas particularidades de
que parcialmente depende a maneira por que a unidade social se comporta
no meio das condições ambientes, inorganicas, organicas e
superorganicas[78].
As civilisações antigas teem-se reconstruido em grande parte pelas
investigações archeologicas, que são para a ethnographia um poderoso
instrumento de averiguação. A sciencia moderna tem conseguido fazer a
historia geral da civilisação da humanidade desde a idade de pedra até
nossos dias, como se o homem actual podesse realmente retroceder ao
passado e voltar ao presente com as provas materiaes do modo como a sua
existencia se desenvolveu, de cyclo em cyclo, sobre a face da terra. Na
grande resurreição da humanidade pela sciencia, o mais insignificante
fragmento de barro serviu para a reconstrucção historica de uma
civilisação.
Do conjuncto das sciencias que estudam o passado, e que são dominadas
pela Historia, porque se apoiam sobre factos historicos, trazem origem
algumas sciencias novas, entre as quaes mencionaremos a _sciencia das
religiões_. Com quanto recentissima, são realmente admiraveis as
conquistas, as descobertas já realisadas por esta sciencia. Uma d'ellas
é, seguramente, a affirmação da unidade historica das religiões. A
crença de que cada religião possuia sua autochthonia, ou pelo menos
certa originalidade, cahiu perante o resultado das investigações
modernas, as quaes poderam levar o espirito humano á conclusão de que as
religiões teem uma origem asiatica commum, que se encontra nos _Vedas_.
A demonstração d'esta verdade é admiravelmente desenvolvida por Emilio
Durnouf[79].
Achou-se que as religiões derivam de um elemento primitivo, o fogo,
considerado sob o ponto de vista de tres funcções distinctas: uma
_physica_, outra _psychologica_, a ultima _metaphysica_. A estas tres
funcções correspondem tres phenomenos, que impressionaram o espirito dos
aryas, quando ainda estanciavam nos valles do Oxus: o movimento, a vida,
o pensamento. Estes tres phenomenos abrangem a totalidade dos phenomenos
naturaes.
Espraiando a vista por todas as cousas inanimadas que os rodeavam, os
aryas chegaram á convicção de que todas essas cousas se moviam por
effeito do calor, proveniente do sol. Reconheceram o calor na chamma, no
raio, nas nuvens formadas pela evaporação das aguas, no vento produzido
pelos movimentos vibratorios do ar devidos á presença do calor, que o
rarefaz, ou á sua ausencia, que o condensa; em tudo, finalmente. Depois,
fixando a sua attenção nos corpos organicos, encontraram a mesma causa
de vida: viram os vegetaes enfolhar e florir animados pelo ósculo tépido
da primavera, e pender feridos de morte no inverno; viram os animaes
mover-se cheios de actividade e de vida quando o calor lhes retemperava
os membros, e enfermar e morrer quando o frio os enregelava.
Portanto foram levados a concluir que residia no calor a causa de todo o
movimento nos corpos inorganicos, e de todos as phenomenos vitaes nos
corpos organisados.
Mas a presença ou a ausencia de calor, estudada no corpo humano,
produziu a noção de tres funcções differentes.
FUNCÇÃO PHYSICA.--O corpo do homem ganhava pelo calor a actividade, a
vida, que perdia pelo resfriamento.
FUNCÇÃO PSYCHOLOGIGA.--Desde o momento em que o corpo do homem se
tornava cadaver por um resfriamento geral, a faculdade de pensar
desapparecia.
FUNCÇÃO METAPHYSICA.--Se pela ausencia da luz o mundo ficasse
sepultado em trevas, a intelligencia humana, dado que podesse
funccionar, ficaria inteiramente desajudada do auxilio da vista, que é o
sentido pelo qual nós adquirimos a percepção de quasi todas as idéas,
especialmente a idéa da harmonia das cousas, e conseguintemente do
principio de que emanam[80].
Assentes estes principios, vejamos como se póde affirmar a unidade
historica das religiões pela sua filiação commum no elemento vedico do
calor. Tomemos na religião que seguimos um exemplo, o dogma da trindade.
Temos no christianismo o _Padre_, o _Filho_ e o _Espirito_, e na
trindade aryana a concepção de tres deuses que resumiam o nucleo da
theogonia: _Savitri_, _Agni_ e _Vâyu_.
_Savitri_, o productor, o pai celeste, é o sol.
_Agni_, é o fogo, habita na terra. O seu nascimento é mystico: se por um
lado tem um pai terrestre, _Twastri_, que quer dizer _carpinteiro_, por
outro lado descende do céo, e foi concebido pela vontade de _Vâyu_ no
ventre de _Mâyâ_.
_Vâyu_, no sentido material é o vento, o ar em movimento, que alimenta a
luz e o fogo; no sentido metaphysico é o espirito de vida, a
immortalidade em si mesma.
Todos estes tres deuses estão, pois, substancialmente identificados na
trindade aryana como na trindade christã. São uma concepção metaphysica
baseada sobre uma concepção muito vaga da natureza.
Mas a unidade historica das religiões póde ainda acompanhar-se na vida
de _Agni_, o deus que se humanisa, porque desce á terra.
_Twastri_, seu pai, é o carpinteiro, que fricciona os dous bocados de
madeira, de que ha-de sahir o «filho divino».
_Mâyâ_ é a personificação da potencia productora sob a fórma de mulher.
_Agni_ nasce homem e transforma-se em deus quando um sacerdote,
collocando-o sobre o altar, derramou sobre a sua cabeça o licôr sagrado,
_sôma_, e o ungiu com a manteiga do sacrificio. Entre os aryas da Asia
central a vacca era o typo por excellencia dos animaes, produz o leite,
o qual produz a manteiga. A manteiga clarificada é a materia animal que
melhor serve para alimentar o fogo. O _sôma_ é um licôr alcoolico,
produzido pelo succo da asclepias acida, que, fermentado, e lançado ao
fogo, cria chammas esplendidas.
O _sôma_ das religiões do Oriente transforma-se nas religiões do
Occidente em vinho, o licôr sagrado. Assim como _Agni_ reside no _sôma_,
Christo reside no vinho, tambem sob uma fórma mystica. Ainda vamos
encontrar no vinho o elemento vedico do fogo: a uva amadurece pelo
calor, concentra-o, e transmitte-o a quem bebe o seu succo. O bolo que
na religião indiana é feito de farinha e manteiga, materias
eminentemente combustiveis e nutritivas, transforma-se na religião
christa na hostia feita de farinha e agua, convindo lembrar que a
combinação do hydrogenio com o oxygenio, de que resulta a agua, tem por
condição, essencial o calor. _Agni_ como Christo residem n'esta offrenda
solida: são o sacrificador que se offerece a si mesmo como victima.
Eis o dogma da eucharistia.
Seguindo o luminoso rastro de Burnouf, poderiamos levar mais longe a
demonstração da unidade historica das religiões, mesmo sem sahirmos do
christianismo; poderiamos descer a minuciosidades, mostrar como a
_estrella dos magos_ é a _savanagraha_, a estrella fatidica; como a
vacca do presepe de Bethlem é a vacca mystica dos aryas, e como nem
siquer falta o jumentinho que para alguns áryas traz sobre o dorso o
fructo de que se extrahe o licôr sagrado; pelo que especialmente toca
aos ritos, seria curioso mostrar, por exemplo, acompanhando Burnouf,
como a grande época do anno christão consiste justamente nas ceremonias
da _renovação do fogo_, quer dizer, na Paschoa; mas o nosso fim é tão
sómente fazer sentir que a unidade das religiões é uma verdade, e que
essa verdade foi conquistada por uma sciencia nova, baseada sobre factos
historicos, e portanto filha da Historia universal philosophica.
A grande obra de simplificação da Philosophia positiva releva
principalmente no mobil que impelliu o espirito humano a descobrir o
principio de unidade das religiões.
Realmente é assombroso acompanhar a marcha da idéa religiosa, semelhante
a uma grande corrente aryana, desde o seu berço asiatico, e através das
mythologias dos antigos povos gregos, latinos e germanos, até ao
christianismo, em que _Agnus_, o cordeiro immaculado, parece não ser
mais que uma leve alteração morphologica de _Agni_.
A sciencia moderna está já dirigindo as suas vistas para a America, no
indefesso empenho de encontrar a unidade das origens da civilisação. De
Chavencey, estudando o mytho americano de Votan, encontrou n'elle uma
contrafacção, á parte o elemento indigena já introduzido, das legendas
asiaticas de Phra-Ruang e de Pyú-Tsau-ti[81]. «Tem-se notado, observa
Maury[82] a analogia de muitas tradições religiosas dos antigos
mexicanos e de algumas crenças christãs ou buddicas, a conformidade de
certos monumentos e symbolos da America central com figuras e emblemas
christãos e japonezes. As populações boreaes encontravam um caminho já
traçado para o novo mundo pelo estreito de Behring e ilhas Aleutianas.»
Especialmente pelo que toca á religião, a philosophia applicada á
Historia é muitas vezes accusada de acintemente demolidora. Esta
accusação, na materia de que vimos tratando, refere-se principalmente á
vida de Christo. Ora é preciso observar que deve haver n'este assumpto
tres pontos distinctos, correspondentes a tres elementos differentes: a
theoria de Christo, a legenda de Christo e a vida de Jesus[83]. Christo,
estudado na pureza sublime da sua vida, merece o respeito de todos os
philosophos. «De alguma crença que a critica racional nos despoje, diz
Stuart Mill[84], resta-nos Christo; figura unica, que se eleva tanto
acima dos seus precursores como dos seus successores, e d'aquelles
mesmos que tiveram o privilegio de receber directamente de sua bocca o
seu ensinamento.»
Desde o momento em que o espirito moderno tratou de procurar nos factos
sociaes a estabilidade de principios que rege os phenomenos naturaes,
querendo assim reduzir todas as nossas concepções fundamentaes a um
estado de homogeneidade e, portanto, dar á philosophia um caracter
definitivo de positividade, a Historia, fornecendo uma grande base para
os estudos de observação, veio occupar um ponto culminante na esphera
dos conhecimentos humanos. Esta superioridade de posição, que a Historia
conquistou na hierarchia das sciencias, provém da necessaria relação que
ha entre os factos e as idéas. De modo que se póde dizer que um grande
numero de sciencias, se é que não são todas ellas, concorrem de mãos
dadas para erigir o vasto monumento da Historia. As obras colossaes
precisam de um immenso concurso de trabalho; quando Cheops e Cephten
pensaram em levantar as duas mais altas pyramides do Egypto, diz-se que
cêrca de cem mil homens carreavam materiaes. A Historia é tambem uma
pyramide. E assim como as do Egypto dominavam com as suas quatro faces
os quatro pontos cardeaes do mundo, a Historia abrange com a sua vista
de aguia a esphera dos conhecimentos humanos.
((1878))
[1] Referimo-nos principalmente ás antas ou dolmens. Vide Adolpho
Coelho, _Algumas observações ácerca do diccionario bibliographico
portuguez e seu auctor_, pag. 10, e Augusto Filippe Simões,
_Introducção á archeologia da peninsula iberica_, pag. 76.
[2] _Historia universal_, introducção, cap. VII.
[3] _Introduction a la philosophie de l'histoire de l'humanité._
[4] _Les origines de la civilisation_, cap. IX, traducção franceza
de Ed. Barbier.
[5] _Expedition to the Rocky mountains_, vol. III, pag. 52.
[6] _Scienza nuova_, liv. II, Da sabedoria poetica.
[7] _L'homme selon la science_, traducção franceza de Ch.
Letourneau, pag. 235.
[8] _Les origines de la civilisation_, cap. III.
[9] _Scienza nuova_, liv. II.
[10] Paulo Janet. _A familia._
[11] _Considérations sur les causes de la grandeur des romains et de
leur décadence._ Cap. I.
[12] _Introduction a l'histoire de la philosophie_, neuvième leçon.
[13] Theophilo Braga. _Historia da poesia popular portugueza._
[14] _Les sciences et la philosophie_, por Th.-Henri Martin, pag.
30.
[15] Cantu. _Hist. univ._ Liv. XI, cap. I.
[16] Ibidem, cap. IV.
[17] Cantu. _Hist. univ._ Liv. XI, cap. VI.
[18] _Introduction a la philosophie de l'histoire de l'humanité._
[19] _Introduction a l'histoire de la philosophie_, sixième édition,
pag. 228.
[20] _Principes de philosophie positive_, por Augusto Comte, pag.
96.
[21] Cousin. _Premiers essais de philosophie_, pag. 380.
[22] Ibidem, pag. 379.
[23] _Discours sur l'histoire universelle_--Avant-propos.
[24] _Disc. sur l'hist. univ._ Troisième partie, chapitre VIII.
[25] _Introduction a l'histoire de la philosophie_, onzième leçon.
[26] Theophilo Braga. _Poesia do direito_, pag. 168.
[27] Vico. _Scienza nuova_, liv. I.
[28] _Scienza nuova._ Liv. IV.
[29] _Historia universal._ Introd.
[30] _Introduction a l'histoire de la philosophie_, sixième Edition,
pag. 239 e 240.
[31] _Poesia do Direito_, pag. 13.
[32] «O seu livro é um Apocalypse, cada dia se descobre alli o
germen d'uma sciencia nova, a Philosophia da Historia, a Symbolica
do Direito, a Critica da Arte.» Theophilo Braga. _A Poesia do
Direito._
[33] H. Taine. _La Fontaine et ses fables_, troisième édition, pag.
8.
[34] _Histoire de la litteratura anglaise_, tome premier, pag. 22.
[35] _Physiologie des ecrivains et des artistes._
[36] _Le monde marche_, seconde édition, pag. 214.
[37] _De l'esprit des lois_, livre quatorzième, chapitre III.
[38] _Histoire de la navigation de Jean Hugues de Linschot,
hollandois, aux Indes Orientales._ Amsterdam, 1619.
[39] Capitulos XXIX e XXX.
[40] _Introduction a la philosophie de l'histoire de l'humanité._
[41] Theophilo Braga. _Introducção á Historia da litteratura
portugueza_, pag. 6.
[42] Joaquim Pedro Fragoso de Siqueira. _Memorias economicas da
Academia_, tom. V.
[43] _Les peuples de la France_, pag. 16.
[44] _Le génie des religions._ (Ed. de 1869), cap. II, pag. 15.
[45] Jacques de Boisjoslin. _Les peuples de la France_, pag. 12 e
155.
[46] _Lettres sur la philosophie de l'histoire_, pag. 115.
[47] _Principes de philosophie positive_, pag. 140.
[48] Obra citada, pag. 88.
[49] Idem, pag. 119.
[50] _Introducção á archeologia da peninsula iberica_ pelo dr.
Augusto Filippe Simões, pag. 2.
[51] «Quem souber porém que o bronze é uma liga de cobre e estanho,
que o segundo d'estes metaes é menos commum que o primeiro e de mais
difficil extracção, e finalmente que, sem se conhecerem ambos, não
se inventaria a sua liga, de certo perguntará porque se não faz
preceder a época do bronze pela época do cobre? A razão é simples.
Em quasi todas as nações da Europa apparecem tão numerosos os
objectos de bronze e tão raros os de cobre, que se teem refusado os
archeologos a admittir uma época só caracterisada por este metal.»
Dr. Augusto Filippe Simões.
[52] Capitulo VI do _Genesis_.
[53] Com razão observa Quatrefages que o polygenismo, habitualmente
olhado como um resultado do _livre pensamento_, começou por ser
biblico e dogmatico. _L'espèce humaine_, deuzième édition, pag. 22.
[54] Quatrefages. A proposito da discussão americana entre
esclavistas e negrophilos.
[55] Dumont. _Hæckel et la théorie de l'évolution en Allemagne._
Segundo Dumont a theoria da evolução apparece em germen nas velhas
religiões pantheistas da India e do Egypto. O philosopho Parmenides
concebia a geração da vida como gradual e resultante d'ensaios
successivos. Chapitre premier.
[56] Topinard. _L'Anthropologie_, pag. 550.
[57] Este ponto é considerado inatacavel por Quatrefages. «Se toda a
terra, diz elle, não é invadida dentro de alguns annos por certas
especies, se os rios e os oceanos não são igualmente invadidos, a
estas luctas se deve.»
[58] As peripecias d'este debate vem largamente narradas no livro
_La genèse des espèces_, publicado em 1873 por H. de Valroger, padre
do Oratorio (pag. 38 e seg.) e no livro _Du darwinisme ou
l'homme-singe_ pelo dr. Constantin James, publicado em 1877. Este
ultimo livro é um manifesto plagiato do primeiro. Diz, por exemplo,
o padre Valroger: «M. Claude Bernard, A. Dumas, M. de Quatrefages e
M. Payen combattirent les theses de M. Pouchet, en s'appuyant sur
leurs propres expériences, et signalèrent des causes d'erreur dont
M. Pouchet paraissait ne pas s'être préservé. L'Academie proposa
l'examen de la question en litige comme sujet d'un de ses prix.» Diz
o dr. James, copiando quasi textualmente, sem citar o padre do
Oratorio: «MM. Claude Bernard, Dumas, de Quatrefages e Payen,
combattirent la thèse de M. Pouchet, en s'appuyant sur leurs propres
expériences, et signalerent de plus les causes d'erreur dont il
n'avait pas su se garantir. C'est alors que l'Academie proposa
l'examen de la question en litige comme sujet d'un de ses prix!»
(Pag. 79).
[59] De Boisjoslin cita, entre outros factos, o dos judeus haverem
deixado de fallar hebreu seiscentos annos antes de Christo, e o dos
francos terem perdido a lingua teutonica trezentos annos antes de
Clovis.
[60] Hovelacque. _La linguistique_, pag. 3.
[61] _Études de linguistique et de philologie_ par André Lefévre,
pag. 41.
[62] Theodoro Benfey. Citado pelo snr. Adolpho Coelho no seu
opusculo _Sobre a necessidade da introducção do ensino da glottica
em Portugal_, pag. 4.
[63] _La linguistique_, pag. 13.
[64] _Les origines de la civilisation_, pag. 416.
[65] _Études de linguistique et de philologie_, pag. 94.
[66] _Nouvelles leçons sur la science du langage_, traducção
franceza de Harris e Perrot, pag. 318.
[67] Lubbock. _Les origines de la civilisation_, pag. 425 e 426.
[68] _Histoire de la littérature anglaise_, tome premier.
[69] Dr. Theophilo Braga: «... esta raça conhecida pelo nome de
indo-europêa, é a que pelas suas condições de ubiquidade, que lhe dá
a sciencia e o poder, subsistira como unica na terra.» _Hist.
Univ._, fasc. I, pag. 55.
[70] «Minha filha Sita, nobre premio da força, não recebeu a vida no
seio de uma mulher; esta virgem de encantadoras fórmas, que se diria
filha dos Immortaes, nasceu de um _sulco_ aberto para o sacrificio.
Eu a dou como esposa a Rama; elle heroicamente a mereceu por sua
_força_ e _vigor_.» _Ramayana_, trad, de Hippolyte Fauche.
[71] Referimo-nos á _Poesia do Direito_ do snr. dr. Theophilo Braga.
[72] _Poesia do Direito_, pag. XIV.
[73] _Idem_, pag. 62.
[74] _Idem_, pag. 66.
[75] _O Fogo_, por F. da Fonseca Benevides.
[76] Vico. _Scienza nuova._ Liv. II. _Da logica poetica._
[77] _Atlas ethnographique._
[78] _Principes de sociologie_, trad. franceza de Cazelles, pag.
137.
[79] _La science des religions._
[80] Emilio Burnouf. _La science des religions_, cap. VIII, pag. 208
e seguintes. (Ed. de 1872).
[81] _Le mythe de Votan, étude sur les origines asiatiques de la
civilisation américaine_, pag. 87.
[82] _La terre et l'homme_, quatrième edition, pag 485.
[83] Burnouf. _La science des religions_, pag. 242.
[84] _Essais sur la religion_, traducção franceza de Cazelles, pag.
237.
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PHILOSOPHICA NA ESPHERA DOS CONHECIMENTOS HUMANOS***
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Da importancia da Historia Universal Philosophica na esphera dos conhecimentos humanos
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The Project Gutenberg eBook, Da importancia da Historia Universal
Philosophica na esphera dos conhecimentos humanos, by Alberto Pimentel
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Title: Da importancia da Historia Universal Philosophica na esphera dos conhecimentos humanos
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— End of Da importancia da Historia Universal Philosophica na esphera dos conhecimentos humanos —
Book Information
- Title
- Da importancia da Historia Universal Philosophica na esphera dos conhecimentos humanos
- Author(s)
- Pimentel, Alberto
- Language
- Portuguese
- Type
- Text
- Release Date
- July 3, 2010
- Word Count
- 19,075 words
- Library of Congress Classification
- D
- Bookshelves
- Browsing: History - European, Browsing: History - General
- Rights
- Public domain in the USA.
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